quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

achados, perdidos, ordinários. . .

Dois pastores discutiam o mundo e a perdição contínua dentro de um ônibus coletivo. Responsáveis por seu papel de encaminhar o rebanho, logo notaram que algumas almas ali podiam ser salvas, e sendo que: “se estamos juntos no mesmo busú podemos seguir também para o mesmo paraíso..”. Daí que um dos dois tratou de convencer o outro a ir falar na frente, pois sua garganta já reclamava depois de tanto pregar na praça da sé... Lá foi ele, andou vagarosamente até o fim do corredor malemolente, se virou com um olhar rígido e começou a entoar duras palavras bíblicas, no entanto, o barulho era tamanho que ele apenas figurou no quadro caótico no qual o ônibus já estava metido.. Suas mãos gesticulavam como se falasse com o próprio Senhor, seu dedo apontava aos céus numa firmeza imitável, no entanto sua voz mesmo gritada não conseguia chegar aos ouvidos dos outros passageiros que conversavam, riam, olhavam para o lado ignorando tais certezas... E era Natal.. o mendigo pediu.. o menino roubou.. O pisca-pisca falhava... E eu pensava: “Ordinários”.


Encontrado num banco no fundo de um ônibus qualquer um pedaço de papel meio amassado sob o banco, não resisti, li e aqui está.

por: ramon

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

No meio da tarde

Há vezes em que a gente fica tanto tempo longe que esquece da nossa capacidade lírica. Pois foi assim que dei para me lembrar:
No meio da tarde de um domingo de trabalho, resolvi parar e observar as árvores. "Êta vida besta, meu Deus" foi a única conclusão a que cheguei. E foi pensando em Drummond que comecei a lembrar de versos de Barros e Guimarães..."As coisas desejam ser vistas de azul, que nem uma criança que você vê de ave". "A gente não vê quando o vento se acaba"... "Então se a criança muda a função de um verbo, ele delira."
E, pensando em palavras que não são minhas, continuaria apenas olhando o movimento das árvores pelo resto da tarde. Senta ao meu lado, porém, um amigo que não via há muito. Com largos sorrisos no rosto, nos cumprimentamos com palavras e abraços.
- Poxa, quanto tempo! – ele disse.
- É mesmo. Você nem vai me visitar mais!
- Sabe como é... Teve uma vez que você ia quase todo dia à minha casa... Eu nunca estava lá. Mas quem sabe um dia não dá para você ir me ver? Ou eu acordo do nada perto de você?! Já aconteceu isso comigo algumas vezes!
Era bom conversar com aquele amigo novamente. Ele tinha aquele ar de loucura e sanidade para nenhum poeta botar defeito. “Tinha algo de calor, poder e flor”. A descrição perfeita! E ele continuou...
- Tem vezes que eu me procuro e não me acho!
- Eu só me acho quando vou ao banheiro, que lá tem um espelho – respondi, rindo – daí saio correndo de medo de eu me pegar.
- Pior que até meu reflexo eu perdi...
Lembrei-me que mantinha na pasta uma foto de poucos anos atrás em que ele aparecia junto a outros amigos. Apontando para ela, disse:
- Ali, oh! Ali você! Meio embaçado, é verdade... Mas o que importa é que ainda é você!
- Ah! Isso já faz muito tempo!
- Mas é você, olha lá! É você!
- Mas nesse tempo eu ainda tinha imagem!
- Mas você ainda tem imagem, fotos são eternas. É sua imagem para sempre.
- São eternas e macabras – completou. – Fotos são macabras, as pessoas ali nas fotos, eternas estátuas.
E sem nem ao menos tomar fôlego da sua fala, levantou subitamente. Disse que tinha que fazer umas composições – era músico. Resmungou que música não deveria ser feita por obrigação. Já andando, fez sinal para que eu o acompanhasse. Antes de atravessar a rua que o levaria à Avenida Cristóvão Colombo, pôs a mão sobre meu ombro e disse:
- Eu só vou saber me desenhar ou, ao menos, me descrever, quando conseguir desenhar meu próprio nariz. Sabe, ele é o que tem de mais expressivo em mim! Sem nenhum exagero.
E cruzou o sinal.

por: luciana costa

sábado, 15 de dezembro de 2007

Umbuzeiro rachando o céu
Por: Dudu (www.lisarbvideos.blogspot.com)

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

A cada dia


Tenho medo dos emails de Tantão (pra os menos chegados Artur) porque sempre carregam algo que de algum jeito a gente quer afastar... Isso é totalmente necessário, pensar, ler e ver... Aí vai alguns dos seus abortos:

A cada dia que sofro com o ócio justificado pela falta de esperança e
coragem, refletidos na catástrofe do mundo dominado por seres
criativos, e motivados pela busca de morrer utilmente/por causas
nobres, eu penso que o sofrimento deve ser aceito como integrante da
vida, mas com a procura da disciplina (não-sinônimo de força ou
gasto de energia, mas boa educação e reavaliação de conceitos na
busca do absoluto) que o evita.
Ninguém gosta da morte, mas porque não a aceita.

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A escolha mais sábia está em Buscar o absoluto. Livrar-se de
imposições culturais e educacionais na busca da racionalidade plena
que visa a irrefutabilidade e consequente harmonia entre os seres é o
caminho mais puro. O respeito é sim uma palavra importante, mas é
antidoto para o risco existente e muito provavelmente constante e
crescente, que seria a difusão da idéia ou crença. Melhor que
respeito, é não precisar dessa palavra.

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Um dia desses, estavam conversando sobre os horrores de casos do
canibalismo humano. Eu, sinceramente, penso que fui o único a não me
assustar com a conversa, pois tenho lembranças comparativas que, sem
querer, mostram o quanto insignificante esses casos são e como a
palavra "canibalismo" não tem maior significado além do que "comer
bicho", assim como é qualquer outra forma de alimentação
carnívora.

por: Artur

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Bar ruim é lindo, bicho

Eu sou meio intelectual, meio de esquerda, por isso
freqüento bares meio ruins. Não sei se você sabe, mas
nós, meio intelectuais, meio de esquerda, nos julgamos
a vanguarda do proletariado, há mais de cento e
cinqüenta anos. (Deve ter alguma coisa de errado com
uma vanguarda de mais de cento e cinqüenta anos, mas
tudo bem).
No bar ruim que ando freqüentando ultimamente o
proletariado atende por Betão – é o garçom, que
cumprimento com um tapinha nas costas, acreditando
resolver aí quinhentos anos de história.
Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos
ficar "amigos" do garçom, com quem falamos sobre
futebol enquanto nossos amigos não chegam para
falarmos de literatura.
– Ô Betão, traz mais uma pra a gente – eu digo, com os
cotovelos apoiados na mesa bamba de lata, e me sinto
parte dessa coisa linda que é o Brasil.
Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos
fazer parte dessa coisa linda que é o Brasil, por isso
vamos a bares ruins, que têm mais a cara do Brasil que
os bares bons, onde se serve petit gâteau e não tem
frango à passarinho ou carne-de-sol com macaxeira, que
são os pratos tradicionais da nossa cozinha. Se bem
que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, quando
convidamos uma moça para sair pela primeira vez,
atacamos mais de petit gâteau do que de frango à
passarinho, porque a gente gosta do Brasil e tal, mas
na hora do vamos ver uma europazinha bem que ajuda.
Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, gostamos do
Brasil, mas muito bem diagramado. Não é qualquer
Brasil. Assim como não é qualquer bar ruim. Tem que
ser um bar ruim autêntico, um boteco, com mesa de
lata, copo americano e, se tiver porção de
carne-de-sol, uma lágrima imediatamente desponta em
nossos olhos, meio de canto, meio escondida. Quando um
de nós, meio intelectual, meio de esquerda, descobre
um novo bar ruim que nenhum outro meio intelectuais,
meio de esquerda, freqüenta, não nos contemos: ligamos
pra turma inteira de meio intelectuais, meio de
esquerda e decretamos que aquele lá é o nosso novo bar
ruim.
O problema é que aos poucos o bar ruim vai se tornando
cult, vai sendo freqüentado por vários meio
intelectuais, meio de esquerda e universitárias mais
ou menos gostosas. Até que uma hora sai na Vejinha
como ponto freqüentado por artistas, cineastas e
universitários e, um belo dia, a gente chega no bar
ruim e tá cheio de gente que não é nem meio
intelectual nem meio de esquerda e foi lá para ver se
tem mesmo artistas, cineastas e, principalmente,
universitárias mais ou menos gostosas. Aí a gente diz:
eu gostava disso aqui antes, quando só vinha a minha
turma de meio intelectuais, meio de esquerda, as
universitárias mais ou menos gostosas e uns velhos
bêbados que jogavam dominó. Porque nós, meio
intelectuais, meio de esquerda, adoramos dizer que
freqüentávamos o bar antes de ele ficar famoso, íamos
a tal praia antes de ela encher de gente, ouvíamos a
banda antes de tocar na MTV. Nós gostamos dos pobres
que estavam na praia antes, uns pobres que sabem subir
em coqueiro e usam sandália de couro, isso a gente
acha lindo, mas a gente detesta os pobres que chegam
depois, de Chevette e chinelo Rider. Esse pobre não, a
gente gosta do pobre autêntico, do Brasil autêntico. E
a gente abomina a Vejinha, abomina mesmo, acima de
tudo.

Os donos dos bares ruins que a gente freqüenta se
dividem em dois tipos: os que entendem a gente e os
que não entendem. Os que entendem percebem qual é a
nossa, mantêm o bar autenticamente ruim, chamam uns
primos do cunhado para tocar samba de roda toda
sexta-feira, introduzem bolinho de bacalhau no
cardápio e aumentam cinqüenta por cento o preço de
tudo. (Eles sacam que nós, meio intelectuais, meio de
esquerda, somos meio bem de vida e nos dispomos a
pagar caro por aquilo que tem cara de barato). Os
donos que não entendem qual é a nossa, diante da
invasão, trocam as mesas de lata por umas de fórmica
imitando mármore, azulejam a parede e põem um som
estéreo tocando reggae. Aí eles se dão mal, porque a
gente odeia isso, a gente gosta, como já disse algumas
vezes, é daquela coisa autêntica, tão Brasil, tão
raiz.
Não pense que é fácil ser meio intelectual, meio de
esquerda em nosso país. A cada dia está mais difícil
encontrar bares ruins do jeito que a gente gosta, os
pobres estão todos de chinelos Rider e a Vejinha
sempre alerta, pronta para encher nossos bares ruins
de gente jovem e bonita e a difundir o petit gâteau
pelos quatro cantos do globo. Para desespero dos meio
intelectuais, meio de esquerda que, como eu, por
questões ideológicas, preferem frango à passarinho e
carne-de-sol com macaxeira (que é a mesma coisa que
mandioca, mas é como se diz lá no Nordeste, e nós,
meio intelectuais, meio de esquerda, achamos que o
Nordeste é muito mais autêntico que o Sudeste e
preferimos esse termo, macaxeira, que é bem mais assim
Câmara Cascudo, saca?).
– Ô Betão, vê uma cachaça aqui pra mim. De Salinas
quais que tem?

Texto gentilmente cedido pelo autor. Também parte
integrante do volume As Cem Melhores Crônicas
Brasileiras, organizado por Joaquim Ferreira dos
Santos.

Antonio Prata

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

“Inventei a solidão para uso puramente disciplinar, foi com ela que aprendi a criar” (Deus).

Se a ciência, em dias atuais, não estivesse, dentro do nosso ideal de desenvolvimento, tão avançada, o mundo estaria ainda cheio de profetas: de Maomés, Adãos, Evas, Noés, e (me perdoe talvez a possível ofensa, mas imagine que eu tenha falado a seguinte citação de modo tão ingênuo e despercebido) a grande estrela da história universal: Jesus. Porém, o desenvolvimento da tão raciocinada medicina está cruelmente delimitando costumes de pensar e agir. Falando mais romanticamente (e isentando um pouco este texto da linguagem tão direta e burocrática) já nascemos chorando por extrema lamentação até da tradicional maneira de nascer. É verdade que alguns poucos raros não choram, mas para não invalidar o meu argumento, chamo estes de “acomodados de nascença”. Observando mais detalhadamente, somos tão diferentes, mas tão iguais. É um fato totalmente incompreensível! Enfim, a ironia é feita de paradoxos. Não dar “bom dia” a um conhecido ou deixar de levar a maçã da semana para a professora pode ser absurdamente perigoso. E aí somos iguais, tão desinteressantes, onde há novidade nisso? Sem graça. Brotamos rebeldes, revoltados, mas após a primeira satisfação ao beber o leite quentinho da mãe, começamos a nos acostumar com a vida, afinal não vale a pena chorar se o leite vai saciar a fome. Temos olhos grandes quando bebês para que a observação do aprendizado seja mais eficaz. Vamos repetindo os atos e somos, de repente, nós! Um segundo nascimento, a natureza é perfeita (eu quis passar ironia com esta frase, mas como achei que esta não estava assim tão explícita, deixo isso claro)! No meio de tanta igualdade tediosa e da nossa assimilação repetitiva e insistente é que nos fazemos únicos e inimitáveis!

Então criamos, pelo passar dos séculos, a ciência. A ciência é tudo. A dividimos nas matérias da sabedoria. E tudo é ciência. Como se não bastasse o nosso entendimento e interpretação pura e inconscientemente, resolvemos conceituar a dita cuja. A ciência surgiu da ciência, pois foi delimitada (a partir de um conhecimento) por um conceito para que pudesse ser entendida como foi e como é ao passar dos tempos. Porém, é esta muito inteligente, e tem seu ar de vingança. A ciência (perdoe-me repetir a palavra mais uma vez, mas não vejo outra que a substitua e que tenha o mesmo significado, aceito sugestões para mudanças posteriores) mentiu e até hoje mente para o homem, numa brincadeira mutável muito divertida, aflita e muito irritante. O planeta já foi plano, como será amanhã? E os alquimistas, coitados, que passaram todos os anos da vida tentando fazer brilhar dourado os objetos! A Science (só para não repetir em português) é sádica e provou e está provando a todo o momento mais uma vez que é obviamente impossível de conceituá-la! A ciência que há em nossa mente é totalmente manipuladora, dominadora, (absoluta?), concreta... Mas a verdadeira é totalmente livre, mutante (cometi um erro em denominá-la até o que ela é!)... Será que nossa tentativa, a todo instante em nossa vida, é o de torná-la estática, uma só? Uma pergunta é sempre melhor que uma afirmação. Por isso inventamos a “Lei da Infinidade”, que consiste em haver sempre uma ou várias perguntas para cada nova resposta! E foi aí que erramos! Caso seja realmente nosso desejo tornar a scienza (em italiano, só para não repetir em inglês) “estática” e imutável, palpável, não deveríamos ter inventando essa tal “Lei da Infinidade”, as respostas não deviam vir de perguntas, mas sim de outras respostas (sem interrogações no meio)! Tenho certeza de que a primeira pergunta feita no mundo estava bem guardada, lá no fundo, na caixa de pandora. E a partir dessa surgiram todas as infinitas perguntas. Pois então, a ciência é um conjunto de afirmações. Nunca chegaremos ao alvo com as perguntas. Ao escrever esta frase, senti-me traído por mim mesmo e minhas palavras, pois acho impraticável o que acabei de dizer... E é, porque assim fomos treinados.

Criaram também a religião pelo ato da fé como tentativa para chegar a um caminho satisfatório. O primeiro postulado foi logo esperto, pois quem o criou já sabia que a nossa ciência estava toda errada desde antes, e é: fé não se mistura com ciência, religião não lida com a razão. (E a partir daí já foi criado um sistema cientifico de idéias sem nem se dar conta) O segundo, tradicionalmente concebido, tenta fazer o contrário do que tentamos fazer com a ciência (já que os dois não se misturam): evitar as perguntas! Quantas vezes já me decepcionei e me aborreci, na fase de tantas dúvidas sobre a magia da fé cristã, quando perguntava a alguém sobre tal coisa e etc, e me respondiam: “não se pergunte, esqueça as perguntas. Leia a bíblia que você vai entender tudo” A religião praticamente aboliu as perguntas, só chegando à afirmações com a ajuda de afirmações (contidas num livro sagrado). Quem inventou o ato da fé religiosa odiava a nossa ciência e conseguiu, em parte, anular o foco principal da “nossa ciência” (já dito: as perguntas). Pena que, em minha opinião, a religião foi uma ótima idéia, mas que acabou sendo corrompida por outros fatores que não tenho interesse de citar aqui.

Cuidado para não sair demais da linha do que a sociedade nos permite ser, já que somos altamente excludentes. (Posso ter pecado nesta frase, já que muitos não escolhem e até preferiam esta na linha da sociedade) Ser louco não é sair por aí, beber com os amigos e fazer insanidades juvenis. Ser louco é muito mais difícil.
por: vitor gigito

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

pra feriar...



A casa sem fim

Havia uma casa silenciosa no fim da rua
Havia um amarelo anêmico que impregnava suas paredes
Uma sublime poeira pontuando cada canto
Um rol de folhas secas, com um banco marrom sem perna

Havia um ninguém na casa
Uma solidão acompanhada de rachaduras
Fechaduras enferrujadas
Móveis tortos e largados

Sem entradas ou saídas
Ela está lá,
Quieta e baldia nesse mundo engraçado
Calculadamente explicado
Essa casa eternizada, enquadrada na janela de um quarto do outro lado da rua
Estará sempre nos olhos do velho moribundo que a teve como última visão


“fuga(z)”

Uma folha em branco
se rasgou sozinha,
bailou pelo ar
com seus pedaços
separados...
fugiu dos riscos
das idéias humanas
quis voltar a sentir
o ar, aliviante...
ninguém reparou
ou quis reparar...
a brisa acabou
e botou fim ao momento
quase sublime...
passou um gari
afim de colocar ordem
e assim foi pro lixo
onde se riscou, sujou
e assim... se encheu de nós

por:ramon

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Gosto é igual a cu?

Tudo é muito bonito: Silvano Sales, Calypso e Jorge Benjor; Marlos Nobre, Bonde do Forró e Tom Jobim; Caetano, Paulo Lima e Parangolé; Ilê Fun-fun, Chico Buarque (R$ 180,00!) e Viola de Doze; Legião, Nelson Gonçalves e Povos Timbira; Nação Zumbi, Antônio Nóbrega e Engenheiros; Bonde do Tigrão, Raul Gil e Gil. Mas o fato é que nos perguntamos muito pouco sobre música. Somos dirigidos pelo romantismo que isenta a música de raciocínio através da sua subjetividade. Associamos sons organizados simplesmente às nossas mais puras e tenras emoções, seja lembrando de alguém ou alguma situação, seja expressando os mais profundos inexpressáveis da alma, seja amando a Xuxa ou chorando num show de Zezé de Camargo e Luciano, relaxando ao som de Mozart ou entrando em estado depressivo com Mahler. Aqui, uma idéia nos basta...
Ernst Widmer, um importante compositor suíço, naturalizado baiano, professor da Escola de Música da UFBA até o seu falecimento, na década de 80, tratava de maneira peculiar o ato da criação musical: compor música e educar configura uma redundância. Para Widmer, o compositor, pelo próprio ato de inventar música, é um educador. Primeiro, ensina a si mesmo (o artista cria a obra e esta cria o artista, numa lambada poética); depois à entidade artística que é a obra e à prática musical de uma época; e, finalmente, ao consumidor da obra, para usar termos contemporâneos e sem apegos emocionais (mecenato = indústria cultural?). Considerar essa redundância como uma possibilidade, desperta tópicos latentes nas nossas cabeças que fundamentariam uma palestra diária de nós para nós mesmos, ouvindo Patchanka ou György Ligeti: a) a importância do compositor (todo mundo conhece o vocalista da banda... mas “quem fez a música mesmo?”); b) a real importância da música e da educação musical para a sociedade – e para as transformações do indivíduo e do todo; e c) o que é mesmo o gosto musical? Esses são três de tantos outros que podem nos acometer. Mas, dentre tantos, de especial interesse para o compositor desse texto, nesse texto, vamos, brevemente, ao tópico ‘c’.
O que acontece quando se gosta de uma música qualquer? Se pensarmos a composição como um ato educacional, encaramos, naturalmente, a apreciação musical como um ato de aprendizado. E essa mudança de postura frente à audição de música nos abre novas possibilidades, dá um maior significado às emoções que consideramos inerentes à arte musical e, principalmente, nos leva ao poli-estilismo e ao ecletismo real e bem vindo (não aquele tão conhecido ecletismo sem-vergonha), pois acaba com a prisão banal que é o gosto-por-gostar – o que acaba desembocando numa monocultura musical, fatalmente ditada pela mídia de massa – e, efetivamente, quebra os preconceitos, afinal, toda música, desde os cantos de candomblé até os atabaques da música clássica-moderna – e Baiana - de Lindembergue Cardoso, tem algo para ensinar; basta, da nossa parte, querer aprender. E não falo de texto, poesia... falo da subjetividade dos sons. Isso explicaria, por exemplo, a relação, muitas vezes verdadeira, ‘insistência x gosto’ e a preocupação, por todas as vias, em todos os estilos e em todas as épocas, na construção de coerência do discurso sonoro-musical, por parte de compositores e intérpretes – vide Brahms, Tom Jobim e Parangolé.
Pensar sobre música não é retornar aos extremos vanguardistas da década de 60, mas reforçar as confusões e os paradoxos essenciais à música e seus significados emocionais individuais e coletivos, outrora tratados, quase que pejorativamente, como romantismos: precisamos tornar cada vez melhor o que nos faz bem, seja a criação de música, a sua audição ou os hábitos musicais da sociedade ou mesmo do seu condomínio (Porra! Deixem-me, em paz, estudar a minha trompa!). E música nos faz..

Paulo Rios Filho é compositor, estudante de composição da EMUS/UFBA, baterista e trompista.

domingo, 21 de outubro de 2007

Império dos Sonhos (INLAND EMPIRE)

O pulsante absurdo que nos invade enquanto testemunhamos o novo filme de David Lynch, “Império dos sonhos, nos leva a repensar os diversos tipos de reações que o cinema tem a capacidade de provocar. Se imagine lendo poemas de um mendigo esquizofrênico de trás pra frente, ao mesmo tempo em que pula de para quedas sem enxergar o chão.. Pensou?! Pois é...

Lynch é um velho escroto e genial, que insiste em dar imagens ao imprevisível mundo da subconsciência. Império dos Sonhos é um filme intrigante antes, durante e principalmente depois, nos envolve em um lento processo para pensá-lo, digeri-lo. É uma experiência travestida de cinema onde o desespero, dor e beleza nos entorpece sem piedade.

Durante a projeção ia bolando teorias, fazendo diversas ligações, buscando desconstruir o tal império, mas aí que vinha ele e me dava uma rasteira, e outra, e mais outra, e assim de tanto apanhar fui levado a achar que o tal velho cineasta tavasacaneando, tocando o “foda-se” pra tudo mundo sofrer, e que sua genialidade tinha atingido um estágio sádico da relação filme-espectador... O achei irresponsável e egoísta por me jogar num mundo incompreensível, que provavelmente nem ele talvez quisesse dar algum tipo de coesão. Fui aos poucos percebendo que não há no filme nenhum exercício de autoridade cinematográfica, muito pelo contrário, há sim um constante diálogo, nos questionando sempre: “Você quer ver?”, ao mesmo tempo que nos convida pra dançarmos como personagens nesse universo, que só faz sentido quando o aceitamos enquanto espaço de questionamento da realidade. Literalmente adentramos na deliciosa angústia que nos aproxima totalmente da protagonista (Laura Dern, fantástica!), no momento em que ela se entrega e compartilha conosco o mesmo desespero: “Eu não sei o que veio antes ou depois. Não consigo distinguir o ontem do amanhã e isso está fodendo com a minha cabeça.” Percebi uma conexão perturbadora com os delírios da personagem, e lado a lado fui me intrigando com seus caminhos, me entregando a libertinagem, à orgia das imagens (que Buñuel e Dali iriam invejar... As seqüências mais surreais da história do cinema recente) que iluminava e escurecia por completo a sala.

Depois da primeira hora de projeção dominada pelo silêncio, a sala entrou em um constante movimento, onde as pessoas falavam, soltavam risadas sem sentido em momentos bizarros, faziam caras e bocas, iam embora... meu incômodo inicial levou a notar o quanto filme se democratizava, dava a cara pra apanhar também, podendo ser mal interpretado, odiado, definido como pseudo-intelectual, porra-louca, assim como também louvado, apreciado, debatido, intensamente relevante.

Esse filme me expandiu, levitou, assustou, ativou um ponto do meu cérebro que se mantinha em coma.. Vida longa as “não-respostas”, a arte que ninguém pode ao certo definir! Aos pesadelos estranhos!

Cinema de interferência, libertação e expansão de idéias, seja ele simples ou Lynch!


por: ramon

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

A inexplicável morte do "Sem-título"

-Tarde do por do sol de ontem pus-me a ajuizar e filosofar sobre minha verdadeira condição. Nasci, eu, bastardo e esquecido pela desvairada da minha mãe, que ao me trazer, deixou-me ali mesmo na lama pútrida, impedido de ver a claridade do sol da tarde. Com os olhos recheados de lama, tornei-me um cego sem nunca ter visto outra imagem a não ser o interior do corpo da velha, tão terrível e sujo, dominado pelas teias e ratos. Tão assustador era o ponto que brotei semanas antes. Quando me tomei conta de ser um indivíduo, tão horrenda criatura me descobri, de pele supurada e pegajosa, de boca sem dentes nunca nascidos e nariz tão repleto de proeminências, que me tornei recluso nesta caverna. Tanta saudade do ventre da velha, que vivo aqui neste espaço tão parecido sem nunca querer ter germinado. E então, porque não nasci eu são e digno de vida? Ora, pois culpo o autor que me escreve. E assim também, o agradeço por me consentir tal pensamento e não conter o meu desprezo. Porém, mesmo de tal modo, o odeio. Julgo-lhe desgraçado, insolente, arrogante, um insensível sádico. Uma besta, que desperdiçou palavras com escrito tão estúpido. Faltou-lhe imaginação para melhores estórias. Tão cruel...

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Inexplicavelmente, o personagem dessa estória se matou.

(Lembrar: Nunca mais darei tanta liberdade aos meus personagens como dei a este).

Por: Gigito

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

A leveza de ser encantado...

foto: Joana Rizério

Resolvi escrever só hoje sobre as crianças, provavelmente querendo contrariar o calendário dos comerciais da tv, que insistem em dizer que existe um dia pra elas. O tempo é mesmo estranho, até momentos atrás eu chorava pra ganhar um presente, lutando contraditoriamente contra uma adolescência peluda, e hoje me vejo bobo admirando a eficiência das risadas, pulos e tropeços infantis. Logo vem a busca nostálgica por lembrar dessa nossa época, de buscar resquícios que vão além das fotografias e vídeos caseiros... De lembrar nosso jeito de se olhar no espelho, se imaginar em grandes campos entre dribles e xingados futebolísticos, de realmente acreditar em viagens mirabolantes para a China, sem barreiras, sem muros pra criar mundos.
Uma amiga falou que queria marcar um encontro com ela criança, só pra ver como ela falava, ria, pensava.. Creio que há literalmente possibilidade de nos aproximarmos desse encontro impossível, principalmente no nosso modo de tratar essas crianças hoje. O que há é uma miniaturização do nosso modo adulto de vida, assim os tais brinquedos infantis simulam uma família de plástico para as meninas, uma corrida de carros para os meninos, impondo todo um cotidiano às crianças apenas de uma maneira mais lúdica e colorida. Todo potencial imaginativo é reduzidos a jogos, celulares, esmaltes e sei lá mais o que eles vendem como brinquedo infantil. Enquanto isso muitas carregam armas verdadeiras pra tentar sobreviver, choram e não são ouvidas, são largadas pelos sinais urbanos, mirabolando modos de nos sensibilizar... Elas estão por aí e dizem tudo sobre o mundo que temos e construímos.
Temos que reinventar nosso olhar e ação sobre elas sem impor ou limitar espaços, deixando-as livres para compor vida e fazer-se admiráveis. Pensemos nelas não só por serem pequenas e bonitinhas, mas por serem nosso modo de se encontrar e se eternizar... sempre...

Para Matheusinho, Maristela, e o guri do primeiro andar (que me lembram o sentido das coisas)

Por: Ramon

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Santiago: um comentário



Santiago é um daqueles filmes que dificilmente se esgotaria em uma análise, quem dirá, em uma síntese: há muitas margens; beira muitos espaços de saber; inunda sentimentos dos mais arrebatadores.

Trata-se de uma obra extraordinária, no sentido literal da palavra: está além da ordem dos documentários comumente produzidos que já tive oportunidade de assistir. O motivo, ou melhor, os motivos: em primeiro lugar, há muito mais perguntas do que respostas suscitadas pelo filme, é um turbilhão de questões complexas; em segundo, é um inusitado e corajoso esforço em se pensar forma e conteúdo de uma obra.

Reúno aqui as duas ordens de motivos e questiono: trata-se de uma história de vida ou seria um percurso etnográfico sobre os mundos do espetacular Santiago? Trata-se de uma crítica contundente e sensível à rigidez das normas e das posições ou seria um desabafo “desesperado”, mas glorioso, diante de tanta matéria bruta sobre uma vida tão fina?

Não tenho respostas claras ou definitivas, tenho uma intimação: há que assistir. O filme é uma questão existencial. Qualquer existência merece um olhar sobre a existência de Santiago: vida que muda vidas, como uma poesia que faltava.

Por fim, à parte motivações pessoais, não poderia deixar de louvar o idealizador da obra ou os idealizadores, não gostaria de cometer injustiças. Alguém haveria de imortalizar uma figura como Santiago, até então, anônima, silenciosa. Alguém haveria de revelar este homem: sua vida nobre e humilde, como convém aos verdadeiros gênios.

Ana Clara Rebouças

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Metrô: Mais uma novela de sucesso


- Mamãe!Mamãe! Quando vou andar de metrô?
- Ô meu fio..vc vai ter que crescer e trabalhar aí para ver se esse negócio anda!
Essas e outras frases trafegam pelos nossos coletivos quando passamos por um trecho inacabado da obra soteropolitana. Lembro-me de quando iniciaram as obras do metrô em que os soteropolitanos o viam como a solução para os problemas de transporte na cidade; alguns chegaram até ir a Lapa para presenciarem as primeiras explosões do túnel do metrô. E esses foram os primeiros capítulos da novela do Metrô.
Nos capítulos seguintes, como era de se esperar, uma reviravolta deixa todos os telespectadores atônitos ao descobrirem os verdadeiros protagonistas da novela: Enganavam-se aqueles que pensaram que os protagonistas eram o metro e os soteropolitanos. Esses na realidade são meros coadjuvantes e os verdadeiros protagonistas são os políticos baianos que, em tempos eleitorais, discutem a autoria da obra e se acusam por atrasá-la.
Conhecendo os personagens, eis o momento de entendermos o enredo da trama: Qualquer metrópole com mais de 2 milhões de habitantes tem um sistema de transporte coletivo de massa eficiente como o metrô. Salvador não. Eis que chegam nossos políticos extraordinários e conseguem finalmente viabilizar o projeto para a capital baiana. Como os protagonistas da trama não são os usuários, o último capítulo – a inauguração do metrô – está longe de chegar.
Picos de audiência são alcançados pela trama do trem, veloz como uma rede de Caymmi, quando sucessivos escândalos revelam a realidade desse projeto. Os quilômetros da inauguração são reduzidos, os custos revelam-se astronômicos e planejamentos incorretos fazem com que passarelas sejam refeitas. A falta de verba e de eleição faz com que os governos joguem a responsabilidade uns contra os outros paralisando a obra e conseqüentemente a audiência abaixa e aquele enorme caminho que vai da Lapa até a rótula do abacaxi torna-se paisagem.
Mas estou animado!!! As eleições municipais vem aí...a novela do trem deverá ganhar um upgrade e os protagonistas retornarão as telas e assumirão seus postos.
O que fica no ar é: Como um metrô nanico e ao ar livre pode ser chamado ainda de metrô? Aliás como a novela não ta em evidência acho que muitos já se esqueceram que existem um metrô em andamento..vc se lembra?
por: Moisés Silva

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

meusOlhosNumDomingo

Eu preferia não cantar tristezas nesta noite de domingo
Tampouco falar de vazios interiores, lembranças cortantes
Não... definitivamente não queria
Mas há um firmamento em trajes negros
Cobrindo a cidade e cuspindo verdades inflamáveis
Um vento que espalha solidão pelas ruas e toca as feridas
É impossível não sentir, fechar os poros e passar intactos
E então, afetada fui, afetada estou faz tempos
As dores me comem pela beirada, cruamente numa ira sem fim
Eu me sinto partes, numa incompletude significativa
Talvez o desejo de lacerar seja supremo agora, ontem
Mas o abismo é pouco pro espaço que há aqui
Melhor seria o horizonte em colher farta
Isso sim... um rio de possibilidades
De luzes atraentes e histórias recheadas de vida
Muita vida para minhas depressões
E cortes?
Cicatrizantes eternos, ou não tão eternos assim
Apenas dormentes, aos olhos, ao coração
E agora é hora de dormir
de esconder dos pensamentos os desejos vãos
de mostrar ao coração os planos em verde musgo
de repousar o corpo e poupa-lo desta alma fervilhante.


por: Tai - http://otdaquestao.blogspot.com/



sábado, 6 de outubro de 2007

A incansável busca por Vontade

Nosso sufocante cotidiano de metrópole globalizada as vezes beira o insuportável... Salvador, com suas ruas vomitando gente pelos becos, passarelas, esquinas sujas, gritando, vendendo, pedindo, andando, colidindo-se como formigas na busca de uma sobrevivência angustiante. Como Milton Santos elucida, é nesse espaço desordenado que se revelam nossas grandes contradições, e está aí a chance de repensarmos nosso papel enquanto habitantes soteropolitanos.
Muita coisa embaralhava minha cabeça enquanto lia um texto de um outro velho intelectual, que romanticamente relembrava os tempos áureos de nossa província. Aquela nostalgia hippie que descrevia ruas mais belas, a juventude mais engajada, uma produção cultural efervescente, me fez sentir um pessimismo inquietante, e como um moribundo largado em meio aos ratos (literalmente a Estação da Lapa não me deixa mentir). Todo esse delírio por um passado que não vivi me fez instantaneamente filosofar: moramos aqui, mas afinal Vivemos essa cidade? O que ela tem a oferecer pra uma juventude que cresceu cambaleante entre rebolados axé-carlaperianos?! A quais espaços de luta podemos recorrer? Quais lugares freqüentamos e patrocinamos? Aquela menor parcela que tem acesso a comida, educação, etc, a tal juventude classe média, lota os shoppings, os shows do Chiclete, as salas de cinema para ver o Homem Aranha 3, pulam nos carnavais “arrêa-arrêa”, engolindo tudo isso com hambúrguer e uma coca-cola num posto de gasolina qualquer... Mas como exigir mais desses jovens?! Convivemos num sistema que não respeita nem conduz a reflexão, que não valoriza a cultura popular, que não se interessa em garantir noções sobre memória e muito menos nossas responsabilidades enquanto sujeitos históricos. Tudo isso é descartado por não ser facilmente consumível... Debater tais questões se torna tarefa árdua frente a essa dose anestésica da mídia que nos infesta todos os dias, afetando nossa idéia de coletividade, nos carregando de individualismo acomodado e gorduroso. Sim... é isso, mas o que realmente pode ser feito?!
Concordo com Belchior quando ele canta que a voz ativa é uma boa, acredito que a disseminação e discussão de idéias têm um poder transformador, e que a partir da profundidade destas podem ser efetivadas ações relevantes na educação, no meio ambiente, nas artes... Não podemos reduzir nosso poder de mudança só quando há o aumento da tarifa do busú... Há muito mais a ser feito! Temos que nos atentar ao uso de toda essa tecnologia na qual dispomos hoje em favor das múltiplas alternativas de informação e comunicação, essa maior facilidade na circulação dessas idéias, usando as ferramentas criadas pelo sistema para sua auto-subversão.
Há muito tempo Gramsci já dizia: “sou pessimista com a inteligência, mas otimista com a vontade”, creio nessa busca constante em aliar tais sentimentos, para construirmos muito além do que essa conformação ideológica nos impõe, revolucionando a nós mesmos nas pequenas ações diárias sem esquecer as lutas sociais conjuntas. Podemos assim buscar essa outra globalização que o já citado Milton Santos propôs, deixando de sobreviver se arrastando em nossos espaços, para realmente vivê-los.

por: ramon

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Tentando criar

Nossas intensas buscas por manter ativa a nossa voz, nos faz buscar todos os meios possíveis para gritar!