terça-feira, 23 de novembro de 2010

Cala boca Salvador!

Em um dia qualquer um compositor se vê invadido pelos sons da casa, da rua, da cidade... Apenas um clamor parece poder lhe salvar!

Cala boca Salvador!

Um filme de:
Ramon Coutinho
Joelma Gonzaga
Francisco Gabriel

Atores:
Paulo Rios Filho
Vitor Rios
Artur Rios
Ramon Coutinho

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Sem se distanciar tanto da outra extremidade II



Bau* foi pra África do Sul, e pra aliviar a inveja matadora lhe pedi uma foto. "Velho, não me traga rinocerontes de plástico ou qualquer um desses souvenirs... Faça uma foto lá porra". Mesmo ciente da sua larga experiência fotográfica com pia de banheiro de hotel (entre outros
objetos privados) lhe exigi esse favor com o intuito de exercitar possibilidades: uma imagem com um olhar de um compositor de sons em um lugar que eu gostaria muito de sentar embaixo de uma árvore e achar que tudo ali é especial. Não é todo dia que essa oportunidade nos surge assim como se fosse o busú Marechal Rondon via Campo Grande. Queria ver, mesmo de longe, uma pequena parte da África que não fosse Rei Leão, imagens estilos discovery ou filmes americanos sobre guerras civis no continente... Pretensão demais pra uma única imagem? É por isso meu amigo Bau tratou de arranjar mais de uma, proporcionando só o aumento da vontade de pisar lá e achar logo essa árvore que deixa tudo especial.
Vieram as fotos, algumas histórias e ainda um pedaço do cinema africano: "Nothing but the truth", filme de John Kani.

Nunca estive, mas como sinto falta da Africa em mim...


*Para os menos íntimos - Paulo Rios Filho é compositor e não fotógrafo.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

"José e Pilar" - Encontro pra inventar mais tempo

Em junho estava em uma ilha que não era minha quando soube que Saramago havia morrido em sua ilha... depois de um primeiro momento lamentando recordei repentinamente de uma frase sua que possibilitou ressignificar minha reação com aquele fato: "Nossa maior tragédia é não saber o que fazer com a vida". Assim simples, ergui meus pensamentos sobre a morte de Saramago através da celebração de suas palavras e inquietações, pelo modo como fez sua existência tão plena de valores. Tal perspectiva fez ainda mais sentido quando me deparei com"José e Pilar", documentário com pouco mais de duas horas que segue o íntimo universo do autor nos seus últimos anos de vida. O título não poderia revelar melhor a intenção do cineasta Miguel Gonçalves Mendes. São os primeiros nomes que lhe importam, ou seja, se aproximar dessas duas pessoas e sua intensa relação, acima de qualquer mito. Pilar del Río, até então discreta nas dedicatórias dos livros do escritor, nos surge como personagem indispensável nessa história entrelaçada em tantas outras. José com idéias para os livros, Pilar com as idéias pra vida, se comprometendo um para o outro e com tantas árduas tarefas de quem escolhe ver e reparar em um mundo que se cobre de cegueira. Como o elefante do seu penúltimo livro, eles seguem uma longa trajetória, aliás várias, pelos quatro cantos pra também se fazer ouvir, ver e se comunicar para além dos livros. Entendemos aí a capacidade de ambos em interagir com tamanha firmeza e simplicidade com a câmera e com seu espaço cênico. As montanhas, "a casa", a trilha sonora e os ventos vão nos conduzindo suaves para densidade dos depoimentos, das pequenas conversas, críticas e reflexões sobre Deus, democracia, tempo.

A Saramago sempre interessou a prática do pensador ativo e inquieto com o modo que as coisas levianamente se reproduzem. Se ele deixa a ilha de Lanzarote, seu refúgio, é em nome desse caro trovadorismo, que chega a comprometer sua saúde, concedendo ao filme um dos seus elementos narrativos mais ricos: um escritor que escreve pra viver e que vive pra sua companheira. Mais que isso, uma pessoa que perseguiu a beleza, que subiu uma montanha em um dia qualquer, reconstruiu a vida depois dos 63, que não se resumiu em si, mas desdobrou-se em outro como uma rua que encontra outra em Azinhaga, cidade natal do escritor. O olhar do filme revela que a literatura saramaguiana, tão rica e fascinante, apesar de principal, não foi a única arma do escritor, mas reflexo de toda capacidade de conseguir fazer da vida fruição para além morte, estendendo-se em palavras, imagens, afeição.

Se dificilmente passamos ilesos por um livro de José Saramago, sairemos de "José e Pilar" com uma dificuldade ainda maior em aceitar como a maioria dos atos se perdem em ganância e mediocridade... Combater essa outra tragédia nos carrega da terna responsabilidade de converter todo encontro num modo de inventar mais tempo, rejuvenescendo até o fim.