quinta-feira, 30 de abril de 2009

3 imagens


coité, ausências, orquestra...

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Idéias Baiantificantes - Carmen


Espero na fila, o cheiro é forte, as glândulas salivares produzem enquanto imagino as primeiras mordidas na iguaria de feijão banhada em dendê... Enquanto isso eu ia observando a baiana, viajando naqueles signos, o acarajé crocante sendo cortado, o gringo vermelho se ardendo com a pimenta... Num lapso de pensamento quase trivial percebi algo incrível: “Eu sou baiano... Rapaz eu sou baiano... Que onda...”. Era eu ali um simples baiano babando de vontade por um acarajé! O que mais? O que mais me fazia pertencer a essa complexa terra? Quais são meus adereços Caymmi?
Nessa crise identitária fui obrigado a lembrar de personagens que me ajudassem a entender minha baianidade, ou a falta dela. ACM, Ladeira da montanha, BaVi, Axé Ylê Oia , Castro Alves, o busú caro... Não, nenhum desses patrimônios parecia forte o suficiente para o início dessa análise... Chegou minha vez, peguei o acarajé, “no pratinho é mais caro senhor”, disse aquela mulher vestida de branco com sorriso negro, que me lembrou quase instantaneamente uma outra baiana, muito particular. Miranda, Carmen Miranda. Num primeiro momento fiquei surpreso com aquele nome emanando e piscando em minha cabeça. Ela pra mim sempre foi lembrada como um fantasma que assolava tais idéias baiantificantes. Um personagem aberrante que vendia uma idéia de Brasil, da Bahia pra Hollywood, e que assim só atrapalharia esse debate. Mas não me conformei, havia algo naquela figura branca, portuguesa, que não sabia sambar, mas que carregava esse enorme poder referencial. Afinal olhar pra baiana de 2009 no Rio Vermelho e lembrar dela é realmente intrigante.
A imagem da moça de boca e olhos saltitantes e com frutas na cabeça nos é tão óbvia e familiar, ao mesmo tempo tão cercada de estigmas que me impedia de ir além desses balangandãs preconceituosos. Engraçado como todo mundo acha a Piaf linda, sua vida e voz, mas ninguém concede esse olhar cuidadoso pro nosso quintal. Percebi que não havia melhor caminho pra entender essa tal identidade se não a partir da desmistificação dos mais clássicos e contraditórios expoentes.
Reinventar e personificar o mundo aos seus olhos é o que dá a cada artista sua graça, e foi essa audaciosa coragem artística que Carmen, com a ajuda de Caymmi, conseguiu construir, mitificando uma personagem real do cotidiano da cidade, sem se preocupar com uma fidelidade didática da realidade. Quando vi o documentário de Helena Solberg, “Banana is my business” percebi elementos riquíssimos que cercavam a trajetória da tal mulher das bananas, sua incrível e malemolente performance. O lendário “jeitinho brasileiro” estava ali encaixotado, exportado, exótico do jeito que os gringos gostavam e gostam. Mas nesse processo de descoberta da notável pequena percebi o quanto aquela imagem caricatural, antes característica do personagem de Carmen, tornou-se um modelo que Hollywood ajudou a promover, e principalmente engessar.
Enquanto simples baiano, e claro um pouco preguiçoso, engoli essa idéia de que aquela tal Carmen Miranda era vazia de maiores significados, como se apenas a análise da realidade crua pudesse dar conta do nosso Ser Baiano e Brasileiro. Claro que não tenho a pretensão em definir essa equação, mas todos esses meus devaneios de alguma maneira me ajudam em minha procura por raízes referenciais enquanto sujeito que aprecia acarajé, mas que também gosta de Rock Inglês, ao mesmo tempo que não sabe quem está na frente do campeonato baiano, mas que vive tanta coisa bonita que há por aqui, mesmo com tantos problemas...
Sou, somos! Que onda Carmen...

quarta-feira, 15 de abril de 2009

EXTERIOR

Por que a poesia tem que se confinar

às paredes de dentro da vulva do poema?

Por que proibir à poesia

estourar os limites do grelo

da greta

da gruta

e se espraiar em pleno grude

além da grade

do sol nascido quadrado?



Por que a poesia tem que se sustentar

de pé, cartesiana milícia enfileirada,

obediente filha da pauta?



Por que a poesia não pode ficar de quatro

e se agachar e se esgueirar

para gozar

-CARPE DIEM!-

fora da zona da página?



Por que a poesia de rabo preso

sem poder se operar

e, operada,

polimórfica e perversa,

não poder travestir-se

com os clitóris e os balangandãs da lira?


por: Waly Salomão

terça-feira, 14 de abril de 2009

um canto no mundo


Minha pouca experiência como professor me disse muito sobre o mundo, principalmente sobre as pessoas, e de como mais ou menos as coisas andam como andam... capengas. Grandes revelações a parte, quando sentei na poltrona do cinema pra ver “Entre os muros da escola”, fui muito mais como cinéfilo do que como um Professor em busca de um acalento cinematográfico para meus dilemas educacionais. A questão é que tais filmes “escola” (que já é quase um estilo cinematográfico) atendem justamente a esse anseio de espectadores de licenciatura ou pedagogia... Grandes professores que entram em uma turma problemática e desenvolvem um método psico-pedagógico exemplar, transformando aquela realidade inóspita. Nada contra, porém quando Laurent Cantet optou por fazer um filme que versa com o documentário e que restringe sua ação apenas pra escola, como o título esclarece, esse Cinema ganha muito mais poder e textura. Não estamos como meros espectadores assistindo um grande Exemplo a ser seguido, estamos dialogando, e talvez seja justamente essa comunicação que tenha me aproximado tanto. Acima de tudo o filme me tocou quando me lembrou o que é ser estudante colegial. O que mais fazia no meu ensino médio era reclamar, porque achar um canto no mundo dá trabalho, e se achar com uma educação que não exige isso é pior ainda... Ixi, e olha que eu já estou começando a reclamar que nem professor. Enfim, o filme consegue focar a educação pública na França, com todas as suas especificidades multiculturais, ao mesmo tempo que torna essa discussão abrangente pra qualquer lugar que for visto. Só pra citar outro exemplo poderoso pro debate cinema-educação, temos o excelente documentário nacional "Pro dia nascer feliz".

Dá trabalho mover o mundo prum lado melhor, e essa utópica e maravilhosa pretensão só poderá seguir quando acharmos gente e ferramentas como cinema e educação pra empurrar... eita que dói as costas!

segunda-feira, 6 de abril de 2009

calado!

esqueçam a razão da palavra
seu sentido, aplicação
fiquemos todos mudos por hoje

que o silêncio nos invada
cortante, cada canto
cada fresta, cada vez... mais.


por hoje é isso... calo!

quinta-feira, 2 de abril de 2009

"lavoura arcaica"



"Os olhos no teto, a nudez dentro do quarto; róseo, azul, violáceo, o quarto é inviolável; o quarto é individual, é um mundo, o quarto catedral, onde nos intervalos da angústia, se colhe, de um áspero caule, na palma da mão, a rosa branca do desespero, pois entre os objetos que o quarto consagra estão primeiros os objetos do corpo (...)" (NASSAR, 1989, p. 9)

Há uns dois anos aparei sobre as mãos um livro de capa simples, vermelha, que até hoje me arrepia a nuca. Degustei cada oração, palavra, cada página virada como se fossem as últimas que pudesse ler... Na época, como ainda hoje não sei muito o que falar dele, comprovando a idéia de que as melhores coisas são por elas mesmas explicáveis, a beleza me silencia e alegra... muito! E a versão cinematográfica, de Luiz Fernando Carvalho, só piora as coisas...
O primeiro livro que li esse ano também foi do Nassar, e acho que tem, além da narrativa, um dos melhores títulos da literatura recente - "Um copo de cólera". É pra se calar mesmo...
Virulentos!