terça-feira, 20 de maio de 2008

um estar-bem do caralho!!

Foi durante um por do sol em frente ao mar que ele pensava nela, era um clichê cercado por um momento propício em que à brisa bagunçava seu cabelo sem lhe incomodar, enquanto as cores do dia se misturavam com a noite num processo bem lento, leve... E esse “pensar” não se tratava desse “pensar” habitual, gasto, corriqueiro, como: “tenho que arrumar meu quarto hoje”, não, era um pensar reflexivo, que fazia jus a Platão, as poesias de Neruda, as obras de Rodin, enfim, era um “pensar” intenso, quase pedante, artístico! Pra isso havia por trás aquela mulher, uma longa história a dois, risadas, brigas absurdas, noites sem fim, poesias toscas, enfim tudo isso que parece tornar duas pessoas apaixonantemente inseparáveis. Ele chegou numa simples conclusão: queria fazer o melhor pra ela, é meio óbvia, no entanto, as vezes as coisas se complicavam ao ponto em que essa simples vontade parecesse distante, mesmo ele sabendo que no fundo, toda complicação tinha essa intenção de servir para um bem maior, o que nem sempre ocorria. Ele sabia há tempos o quanto esse bem era recíproco: seja pra dividir um nescau com biscoito de madrugada, seja pra fazer uma massagem mal feita ou pra rir de coisas que só eles achavam graça...

Naquela tarde bonita ele só tinha certeza que queria estar perto dela, e ter a pretensão de torná-la melhor com tudo, como ele se sentia, e quem sabe assim o mundo pudesse segui-los... E mesmo se talvez seus garfos um dia, não se agrupassem no mesmo prato, que a proximidade estivesse em lembrar do passado com um sorriso largo no rosto, junto com uma vontade que o outro, mesmo distante, estivesse realmente bem, não um “bem” que responde ao conhecido “como você está?”... Era um “estar-bem” do caralho que ele desejava!

Isso era o que pensava, o que queria, o que lhe inspirava.

por:ramon.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

a canção, o poema, a risada...


Casas simples, bonitas montanhas,
entre elas um bêbado tropeça nos
tijolos enquanto canta, e canta...
A cena engraçada faz rir os que
passam, e do outro lado da rua,
surge uma frase pra completar a
cena...
o velho senhor recita de
sua varanda rosa e tal frase se
mistura com o aquele canto embriagado...
Não se pode enxergar os rostos
dos personagens, apenas a canção,
o poema, a risada...

por:ramon.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Cão sem dono


"Um embrião cansado invade a escuridão da caverna procurando uma saída...
escuto o eco rebatido nas paredes da carne,
refletindo no olho

O desespero da solidão

A preguiça é o sono dos mortos

Minha euforia necessita de calma,

e minha calma, de euforia
Que se foda o resto do resto
da sobra do que resta
O restante é o que eu quero
O amor do instante é o instante
em que estamos perto da batida perfeita
Os olhos são o início do real

Meu cigarro tem um tempo de vida
Minha vida necessita de um cigarro

O que fazer? O que comer?
Será que minha mão ta certa?

Definitivamente não

Preciso de uma coração que bata descompassado

sem ritmo, sem melodia

Não quero a batida perfeita
quero o descompasso
Me dê uma pista, uma lágrima,
mas me dê algo."

Ciro, "Cão sem dono" -
Beto Brant e Renato Ciasca (2007)