quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Lapiando o olhar

Uma câmera em várias mãos, fixa, um cenário favorável, um artista em atividade... Tudo isso em pouco mais de cinco minutos sem efeitos nem edição aprimorada. Parece que o maior desafio, antes de tudo, foi mesmo parar de falar de idéias e efetivamente criar imagens e interpretações. Um pequeno exercício do tão sonhado curso de cinema da Ufba, que aos poucos ganha forma, cenas e um pouco menos de enrolação.



A idéia era filmar a fotografia, o processo criativo em um lugar bastante conhecido, extremamente caótico e significativo pra o movimento da cidade. A Lapa logo nos surgiu como cenário possível pra essa recriação do olhar sob um espaço banalizado pelo cotidiano. Rodas, câmeras e pernas em um mesmo pique, com início, meio e fim. No meio de toda essa pretensão teórica e metalinguística parece que conseguimos alguns movimentos, risadas e a prazerosa sensação de fazer o que se quer com a ilusão que a arte pode nos empolgar.

Equipe:
Joelma Gonzaga
Francisco Gabriel
Ramon Coutinho

Personagem, fotógrafo e amigo: Carlos Vin Lopes

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Um só-riso amarelo

Talvez se eu tentasse desenvolver de outra maneira, afinal... Uma menina me entrega um papel enquanto eu chegava no passeio interrompendo meu pensamento, dou uma rápida olhada, volto aos neurônios. É uma outra tentativa... Opa, o que é isso?! Não havia mais como retornar as minhas divagações internas depois daquele pequeno folheto estampando um número e um sorriso agressivo. Baixei o papel até a cintura, olhei de novo, dei uma risada quase tão sem graça quanto a do rapaz que pedia meu voto. Nenhuma novidade: era um homem, um número e um sórdido riso. O problema é que aquele símbolo da felicidade, parecia ali no fundo um escárnio, deboche representando de uma ponta a outra um certo cinismo que a política nos mete na maioria das vezes que nos lembramos dela. Eu não queria (nem quero) cair naquele tipo de análise simplista e rasa sobre a situação política e blablabla, mas realmente em tempos de eleições as agressões morais e visuais parecem se intensificar, e não mais através dos atos ilícitos e as escondidas, agora é hora de mostrar cores, sorrisos, marketing e simpatia. Levei o folheto pra casa afim de fazer uma análise mais apurada de sua iconografia, afinal certamente o barulho e tumulto da rua contribuem no embaralhamento das idéias. Sim, eu estava certo... Não, ele não está sorrindo. Aquele homem estava desesperado e os seus lábios falsos meio abertos só escancaravam tal situação, como aqueles animais de circo que fazem seu "espetáculo" a base de chicotadas. O voto, proclamado como grande arma de mudança democrática, acaba também nos acomodando em uma zona de passividade, e assim iludidos pelo feito nobre, empurramos nos botõezinhos da urna toda a responsabilidade e culpa até a próxima eleição: sorriso forçado, aperto de mão, toneladas de lixo em publicidade. Ainda encontramos por aí boas risadas, como as apresentadas pelo candidato Tiririca que sabe realmente provocar risos naturais e saudáveis, como a vida deve ser. Ironicamente o bobo da corte parece aos poucos chegar ao trono se aproveitando do absurdo e da piada sem graça que sempre recontamos, sempre lembrando de ser brasileiros o suficiente e de nunca deixar a alegria desesperada perder pra consciência e a razão. Seria um retrocesso ou um processo?
O que sei é que aquilo me angustiou, aquele folheto, aquela ode a falsidade, como num carnaval de imagens engolindo atos e reivindicações, fazendo tudo descer suave e lubrificado num engodo propagandístico onde perdem a memória, mas nunca a pose. Talvez uma amiga tivesse certa quando opinou que todo político deveria ganhar o mesmo salário de um professor pra ver se as coisas começavam a engrenar.
Aiai, há quanto eu não escrevo sobre cinema mesmo?!
Se um riso amarelo realmente pode nos salvar de conclusões e respostas mais sérias, então vamos lá:


domingo, 12 de setembro de 2010

Miradas

O velho
O menino
A andante

Mais? Perca seu tempo também aqui: http://www.flickr.com/photos/acelgas

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Uma alergia contra a acomodação

Um, dois, três espirros me fizeram ter certeza que meus pés já se firmavam sobre a crosta soteropolitana... Descobri recentemente que minha rinite alérgica se manifesta não por culpa de cantos empoeirados cheios de ácaros ou de gatos perdendo pêlo, mas sim, quando minhas mucosas nasais captam os ares do cotidiano, do dia-a-dia feijão com arroz. O ponto, o ônibus, a rua frenética, passarela mijada, universidade, pão com queijo e internet. Talvez a respiração ofegante de novos dias em novos lugares e novas pessoas não precisem expulsar nada do corpo, mas, pelo contrário, apenas absorver... É como se ela (a Senhora Rinite) precisasse reconhecer seu espaço e norma para agir.
Chicoteei o ar com a cabeça mais uma vez no décimo terceiro espirro em um plano seqüência de um minuto e meio entre a cozinha e o banheiro. Admito: infelizmente tive que xingar. Cambaleante me debrucei sobre a pia pra espirrar com toda força, como se empurrasse, esmurrasse aquela sensação de voltar ao normal. Seria uma alergia contra a normalidade ou contra a comodidade de certos hábitos antigos? E em pensar que em alguns momentos acreditei estar livre de algum deles, consequentemente livre das visitas da Senhora Rinite.
Voltar e reencontrar é bom, precioso e no fundo reconheço a importância de uma boa rotina, o problema é não fazê-la da maneira que se quer, tropeçando sempre em algumas procrastinações clássicas. Fazer o que se quer e se deve é mesmo uma arte...
Admito: me droguei com o antialérgico vermelho e me entreguei a lerdeza letárgica de acreditar que uma hora tudo acaba bem. Talvez estivesse sendo exigente demais com os poucos dias que precederam o tal retorno... Um retorno que diz, refaz e potencializa tanto aquelas experiências logradas na ilha desconhecida. Desfazer completamente a mala é o verdadeiro sinal que aquela viagem incrível e utópica terminou, por isso que ainda mantenho algumas peças de roupa menos queridas na mochila como se fosse uma instalação natural do meu movimento contínuo, agora ativado através da memória, conversas, fotografias e cicatrizes.
Então que venham todos os (mentira, alguns...) espirros cada vez que esquecer dessa pretensão melhor de manter as coisas para além do mofo acomodado do mais ou menos.

ps: ainda bem que Senhora Rinite não sabe ler.