quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

achados, perdidos, ordinários. . .

Dois pastores discutiam o mundo e a perdição contínua dentro de um ônibus coletivo. Responsáveis por seu papel de encaminhar o rebanho, logo notaram que algumas almas ali podiam ser salvas, e sendo que: “se estamos juntos no mesmo busú podemos seguir também para o mesmo paraíso..”. Daí que um dos dois tratou de convencer o outro a ir falar na frente, pois sua garganta já reclamava depois de tanto pregar na praça da sé... Lá foi ele, andou vagarosamente até o fim do corredor malemolente, se virou com um olhar rígido e começou a entoar duras palavras bíblicas, no entanto, o barulho era tamanho que ele apenas figurou no quadro caótico no qual o ônibus já estava metido.. Suas mãos gesticulavam como se falasse com o próprio Senhor, seu dedo apontava aos céus numa firmeza imitável, no entanto sua voz mesmo gritada não conseguia chegar aos ouvidos dos outros passageiros que conversavam, riam, olhavam para o lado ignorando tais certezas... E era Natal.. o mendigo pediu.. o menino roubou.. O pisca-pisca falhava... E eu pensava: “Ordinários”.


Encontrado num banco no fundo de um ônibus qualquer um pedaço de papel meio amassado sob o banco, não resisti, li e aqui está.

por: ramon

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

No meio da tarde

Há vezes em que a gente fica tanto tempo longe que esquece da nossa capacidade lírica. Pois foi assim que dei para me lembrar:
No meio da tarde de um domingo de trabalho, resolvi parar e observar as árvores. "Êta vida besta, meu Deus" foi a única conclusão a que cheguei. E foi pensando em Drummond que comecei a lembrar de versos de Barros e Guimarães..."As coisas desejam ser vistas de azul, que nem uma criança que você vê de ave". "A gente não vê quando o vento se acaba"... "Então se a criança muda a função de um verbo, ele delira."
E, pensando em palavras que não são minhas, continuaria apenas olhando o movimento das árvores pelo resto da tarde. Senta ao meu lado, porém, um amigo que não via há muito. Com largos sorrisos no rosto, nos cumprimentamos com palavras e abraços.
- Poxa, quanto tempo! – ele disse.
- É mesmo. Você nem vai me visitar mais!
- Sabe como é... Teve uma vez que você ia quase todo dia à minha casa... Eu nunca estava lá. Mas quem sabe um dia não dá para você ir me ver? Ou eu acordo do nada perto de você?! Já aconteceu isso comigo algumas vezes!
Era bom conversar com aquele amigo novamente. Ele tinha aquele ar de loucura e sanidade para nenhum poeta botar defeito. “Tinha algo de calor, poder e flor”. A descrição perfeita! E ele continuou...
- Tem vezes que eu me procuro e não me acho!
- Eu só me acho quando vou ao banheiro, que lá tem um espelho – respondi, rindo – daí saio correndo de medo de eu me pegar.
- Pior que até meu reflexo eu perdi...
Lembrei-me que mantinha na pasta uma foto de poucos anos atrás em que ele aparecia junto a outros amigos. Apontando para ela, disse:
- Ali, oh! Ali você! Meio embaçado, é verdade... Mas o que importa é que ainda é você!
- Ah! Isso já faz muito tempo!
- Mas é você, olha lá! É você!
- Mas nesse tempo eu ainda tinha imagem!
- Mas você ainda tem imagem, fotos são eternas. É sua imagem para sempre.
- São eternas e macabras – completou. – Fotos são macabras, as pessoas ali nas fotos, eternas estátuas.
E sem nem ao menos tomar fôlego da sua fala, levantou subitamente. Disse que tinha que fazer umas composições – era músico. Resmungou que música não deveria ser feita por obrigação. Já andando, fez sinal para que eu o acompanhasse. Antes de atravessar a rua que o levaria à Avenida Cristóvão Colombo, pôs a mão sobre meu ombro e disse:
- Eu só vou saber me desenhar ou, ao menos, me descrever, quando conseguir desenhar meu próprio nariz. Sabe, ele é o que tem de mais expressivo em mim! Sem nenhum exagero.
E cruzou o sinal.

por: luciana costa

sábado, 15 de dezembro de 2007

Umbuzeiro rachando o céu
Por: Dudu (www.lisarbvideos.blogspot.com)

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

A cada dia


Tenho medo dos emails de Tantão (pra os menos chegados Artur) porque sempre carregam algo que de algum jeito a gente quer afastar... Isso é totalmente necessário, pensar, ler e ver... Aí vai alguns dos seus abortos:

A cada dia que sofro com o ócio justificado pela falta de esperança e
coragem, refletidos na catástrofe do mundo dominado por seres
criativos, e motivados pela busca de morrer utilmente/por causas
nobres, eu penso que o sofrimento deve ser aceito como integrante da
vida, mas com a procura da disciplina (não-sinônimo de força ou
gasto de energia, mas boa educação e reavaliação de conceitos na
busca do absoluto) que o evita.
Ninguém gosta da morte, mas porque não a aceita.

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A escolha mais sábia está em Buscar o absoluto. Livrar-se de
imposições culturais e educacionais na busca da racionalidade plena
que visa a irrefutabilidade e consequente harmonia entre os seres é o
caminho mais puro. O respeito é sim uma palavra importante, mas é
antidoto para o risco existente e muito provavelmente constante e
crescente, que seria a difusão da idéia ou crença. Melhor que
respeito, é não precisar dessa palavra.

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Um dia desses, estavam conversando sobre os horrores de casos do
canibalismo humano. Eu, sinceramente, penso que fui o único a não me
assustar com a conversa, pois tenho lembranças comparativas que, sem
querer, mostram o quanto insignificante esses casos são e como a
palavra "canibalismo" não tem maior significado além do que "comer
bicho", assim como é qualquer outra forma de alimentação
carnívora.

por: Artur