quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

absorvido


1. Fazer desaparecer total ou parcialmente um líquido, atraindo-o a si.
2. Por ext. Neutralizar, fazer desaparecer.
3. Fig. Consumir, gastar.
4. Enlevar.
5. Engolir, tragar, devorar.
v. pron.
6. Sumir-se, perder-se.
7. Extasiar-se, enlevar-se.
8. Concentrar-se.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

eu, outro, você

Num primeiro momento era através do rosto das pessoas que eu tentava entender o cotidiano de cada cidade, posto de gasolina e vilarejo que cruzava. Um homem de meia idade lendo um jornal no metrô de Santiago; uma boliviana mascando a folha de coca em uma estrada na Bolívia; a menina que dançava sorridente nas ruas de Puno. Analisar a disposição do olhar de cada um parecia o melhor meio pra tentar entender o normal de cada lugar, talvez como um modo ilusório de me sentir parte, imperceptível. Não, ser percebido como o-outro sempre parecia maior. Meu desencaixe estava justamente nesse meu olhar interessado, quase antropológico, como se quisesse colher tudo que se podia de cada contexto.
Perguntei ao homem ao meu lado no carro: "Como é ser taxista em Lima?", ele me olhou de lado, com uma expressão surpresa e positiva. Provavelmente ninguém havia lhe perguntado aquilo... Não tardou a me devolver também um questionamento. Senti a dificuldade e o prazer em responder sobre mim, sobre meu lugar.
Não há como se apropriar das outras realidades sem despertar uma possibilidade mútua de interesse. Eu, ali como um outro mais plural, me aproximando levemente sobre um emaranhado de possibilidades e trocas. Um homem de meia idade lendo jornal, uma boliviana mascando folha, a menina dançando, o taxista falando. Quis ser por um minuto aquelas vidas... Expandir-me impossivelmente sobre seus espaços... Sair de si esquecido e ser dominado por outras lógicas, outras crises e certezas.
Em um movimento contrário e drástico de pensamento voltei pro meu quarto (tão distante), como se aquele delírio tivesse também o momento certo pra demarcar seus limites. É esse ir e vir que me cerca agora, congestiona algumas idéias, liberta outras, responde, cria novas perguntas - como as de Dante, o taxista. Como se integrar subjetivamente aos infinitos caminhos que exigem a nossa presença? Como podemos nos conhecer?
Pra que rostos você irá olhar amanhã? Que lugar buscará ir?
Que perguntas te farão?

domingo, 7 de fevereiro de 2010

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

um deserto cama


era preciso empurrar no ar
soltar alguma coisa de qualquer maneira
romper as curvas,
a borracha, engrenagens,
lama

é... mover-se requer um certo desleixo
larga-se exige uma série de pequenas paralisias
determinados compassos,
desapegos de uma única via

mover mais, sim
mais que os pés, as rodas, o olhar


em um único movimento

criar queda...
e lá se vai indo,
acaso,pedra


até-a-cama o deserto se multiplicou
largo em seus horizontes febris
hipnotizando em suas mínimas travessias

é... constantemente voltaremos a ele,
pra depois de novo fugir
tornado cárcere o ato de se fazer mover
.