sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Sem se distanciar tanto da outra extremidade

A verdade é que depois daquela conversa toda eu gostaria de estar em Istambul... Era simples a vontade de caminhar sozinha por um lugar distante, que não sei quase nada, se não pela afinidade estranha com a percussiva e simpática palavra. Is-tam-bul... Depois de tantas frases duras e difíceis aquele era o lugar que eu gostaria de estar, silenciada pela fascinação de mais que ver, ouvir... Eram os sons magnéticos que me interessavam depois de tantos ruídos agressivos. Queria deitar na grama da Turquia e sentir o modo pela qual sua brisa leva meus pensamentos, como aquela vez que atravessei o rio da minha cidade num barco velho com um livro de um escritor desconhecido sobre o rosto. Olhar o estreito de Bósforo e crer que, como em meu peito, aquela rachadura ainda permitia tanto mar fluir, sem se distanciar tanto da outra extremidade. Faria todo tipo de metáfora idiota querendo a cidade, ela em mim, com todo seu caos e banalidade, pulsando em sutilezas, aromas e erros menos meus, mais de todos.

Nunca estive, mas como sinto falta de Istambul.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Nocturno del Parque H

Insana, mi torpe soledad aquí en La Habana
a un ritmo sin mercados (y sin drogas);
solo, en la quietud fosfórica de este domingo
fumo sin tregua en el tabaco negro de los Hnos.
[Invertidos.

No sé de más que del nombre de Mariana:
el recuerdo espejeado de esos senos ingráves,
como un ídolo azteca clavado en el centro del
calendario.
Un vientillo airoso se arremete contra el colmo del tocado,
desata la evangelista pudorosa en el más del turbante
el blanco más turbado.

Pajuso que se mira al saber que está en la mira,
pájaros del Parque a su vuelo fugitivo en espasmo
teológico:
el esputo victoriano de Hugo se estrella láctico en la vía.

Tres billetes macedonios se almizclan en los bolsillos
revolucionados,
La comunión con Martí en Baragua.

way too much mojitos murmuraba en la carpeta
la sueca pectopulenta de carrillos langostinos,
pero su moral de foca ultraeducada ya se ahoga
en la espesura colombiana de mis dichas de cadeca.


El Diablo, (Hernando Castillo)
Año 52 de La Revolución.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

em nome do supremo delírio

"o habitual é o mais difícil de conhecer,
isto é, de ver como problema, isto é,
de ver como estranho, afastado,
fora de nós"
f. nietzsche

Meu personagem encontrou o olhar dela pelo menos sete vezes naquele dia 14, que fiz quente, chuvoso. Eram olhos tremidos pela lentidão da avenida, pelas rodas tropeçantes do ônibus engarrafado, dando um tom incerto naquele outro rosto a sua frente... Foi essa incerteza que chamou a atenção dele, que logo depois de uma vírgula se virou e me disse:
- Eu preciso desse engarrafamento por um pouco mais de tempo!
O medo dele era de que ela se fosse assim, no próximo ponto, e nada de nada ocorresse. Deixei o ponto passar sem que ela saísse do veículo. Ele queria aquele tempo pra observá-la, pra projetar seus anseios num quase-ato, uma anti-ação não angustiante, mas degustativa... Só imaginar do que ela seria feita além daquele rosto distorcido.
Eles de pé, tendo um metro e quinze de consentimento e distância entre os corpos, e nada mais que treze centímetros entre as mãos, apoiadas nas barras de ferro contorcidas do ônibus.
A espera, o devir deveria comandar aquela história... Por um segundo me senti dominado pelo tal personagem, guiava minhas palavras através do seu olhar lento, do suor mínimo na testa que pensei até em acrescentar uma cicatriz. Enfim aquilo não ia funcionar. Todos ali presos, engarrafados em seus distanciamentos, no não chegar no que realmente queriam... Ninguém naquele ônibus era ou fazia o que realmente gostaria... E meu personagem-paciente sabia disso tanto quanto eu. Tive mesmo que reverter tudo repentinamente, usando aqueles dois personagens em nome do delírio, levá-los a um instante supremo de fazer aquilo que se quer, em nome da coisa que esperamos anos pra sentir. Converti seus mundos num realismo fantástico onde as mãos podiam sem tanta demora se tocar com firmeza, sem receio os olhos também fixados se guiando até o lento pouso dos braços sobre os ombros do outro, e sem pensar, permiti as mãos dadas, saindo pela porta, rodopiando na rua, e como uma valsinha inconseqüente fazendo de tudo uma irresponsável música... Não mais palavra, frase ou conjugação, mas apenas melodia de delírio e do encontro.

--pra thaís m. !