sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Sem se distanciar tanto da outra extremidade

A verdade é que depois daquela conversa toda eu gostaria de estar em Istambul... Era simples a vontade de caminhar sozinha por um lugar distante, que não sei quase nada, se não pela afinidade estranha com a percussiva e simpática palavra. Is-tam-bul... Depois de tantas frases duras e difíceis aquele era o lugar que eu gostaria de estar, silenciada pela fascinação de mais que ver, ouvir... Eram os sons magnéticos que me interessavam depois de tantos ruídos agressivos. Queria deitar na grama da Turquia e sentir o modo pela qual sua brisa leva meus pensamentos, como aquela vez que atravessei o rio da minha cidade num barco velho com um livro de um escritor desconhecido sobre o rosto. Olhar o estreito de Bósforo e crer que, como em meu peito, aquela rachadura ainda permitia tanto mar fluir, sem se distanciar tanto da outra extremidade. Faria todo tipo de metáfora idiota querendo a cidade, ela em mim, com todo seu caos e banalidade, pulsando em sutilezas, aromas e erros menos meus, mais de todos.

Nunca estive, mas como sinto falta de Istambul.

5 comentários:

Maysa disse...

Mon!

Lindo texto...
Até fico inibida de comentar!

Mas fui impregnada por esta vontade também ... "sem me distanciar TANTO da outra extremidade"

Você é fantástico, mesmo! e esse texto me tocou de forma especial...

Beijo,moço!
Meu passeio predileto...altamente vicioso seu blog.

Alda disse...

Cada vez que entro no seu blog sinto minhas emoções revigoradas, sempre fascinantes seus textos.
Essa sensação de querer estar em lugares diferentes, distantes e ainda desconhecidos, intensa e às vezes tão real dentro de mim, já me pegou em muitos momentos nostálgicos, estranha impressão porque como explicar tal anseio do ignorado. Na infância nos períodos que precisei de fugas esse era o meu recurso e refúgio, antes costumava me imaginar um pouco deslocada por tantos desvarios...
Acabo de parir com muita dor, e foi muito longo nem imagina o quanto (risos), mas agradeço muitíssimo a você ter me proporcionado.
Beijos com carinho meu querido. amigo

Tássia disse...

Lindo!


:)

Francisco Gabriel disse...

“Olhar o estreito de Bósforo e crer que aquela rachadura...” seria algo qualquer (uma “metáfora idiota”?). Estreito ou metáfora, falamos do estreito ao passo falamos de nós, falamos do caos, ao passo que falamos da nossa banalidade.

MeNina disse...

Putz! Emocionei, arrepiei, só não chorei porque não. Mas... "Olhar o estreito de Bósforo e crer que, como em meu peito, aquela rachadura ainda permitia tanto mar fluir, sem se distanciar tanto da outra extremidade." Maravilhoso! Lindo, lindo, lindo! Parabéns pelo texto, mon!!!