quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Esboçando cuba II

Estuve yo alli sentado, con la mano sujetando la maleta, en el tren que me conducía del aeropuerto al sureste de Londres, a casa, observando a mi alrededor los rostros que me parecían muertos por dentro, como zombies sin el maquillaje gris puesto. Apenas había pasado una hora desde que aterricé en Inglaterra. Estuve yo allí sentado, decía, cuando empecé a echar La Habana de menos.

Las dos semanas que transcurrieron en la EICTV me traen buenos recuerdos, y no hay duda de que el curso de guión me ha dado una nueva perspectiva sobre el cine, pero fue la capital cubana la que me rompió el corazón, de la mejor manera y en el mejor de los sentidos. Utilicé la palabra “cinematográfica” para describir La Habana y no he encontrado mejor término desde aquel entonces.

La estética de la gloria caída, los muros patrióticos que se desintegran, los taxis públicos con asientos-sofá, el aire que te asfixia y el viento que te lleva en volandas... Nada es cómodo o sencillo, en el sentido que se le suele dar a esas palabras en el mundo consumista y, por lo tanto, cada detalle esconde una pequeña aventura.

La Habana es, simplemente, una ciudad imposible de romantizar, porque la realidad está más allá del romanticismo estéril al que la cultura moderna nos tiene acostumbrados. Y eso lo digo sabiendo que yo sólo probé una pizca de su alegría y su amargura y su tristeza y su fiesta.

Como siempre suele ser, los viajes quedan marcados por las amistades momentáneas. Aquí me limitaré a hablar de los chicos de la habitación de Ramón, por perjuicio positivo hacia ellos.

Con Ramón, ese cinéfilo-actor de cuerpo fino y alma alegre, compartí más tiempo que con nadie. Como es natural, hablamos mucho de cine, pero aún más de nuestras filosofías personales. Me gustó su habilidad de entrar en las situaciones con tranquilidad, sin intentar impresionar ni dejarse impresionar demasiado. Aun así, sus imitaciones acabaron impresionando a todos. La de Joäo -- “El mejor día... de mi VIDA!!!” -- se llevo el premio gordo...

El inacabable optimismo de Joäo, su manera de llenar una habitación con su voz, me abrumó a veces. Pero se me quedó marcada una conversación que tuve con él al acabar el dramático partido Ghana-Uruguay. Estaba Asamoah Gyan en el suelo llorando y uno de sus compañeros se puso a levantarlo. “Me gusta que los levanten,” comenté. “Claro,” dijo Joäo, “hay que tener orgullo.” “¿Crees que llorar es no tener orgullo?”, le pregunté. “Se puede llorar,” respondió Joäo, “pero con la nariz en lo alto.” Se puede llorar, pero con la nariz en alto... Ese comentario podría servir como filosofía de vida...

Hernando me cayó, como persona, mejor que nadie desde el principio. Me perdí la mayoría de sus borracheras, cuando decidía soltar la lengua y su donjuanismo, pero su actitud rockera en la última fiesta en la escuela de cine se me quedará como recuerdo de por siempre. También su consejo sobre como conquistar a las mujeres: “Hay que maltratarlas, pues.” Genio...

Mauricio, al que denominé “Mauricio que vive del viento” el último día que pasé en La Habana, sabe lo que hace. Tiene contactos e historias para cien fiestas. Su cita “Para ser más maricón hay que tener dos culos” es más graciosa de lo que parece...

Hablé con muchos cubanos sobre la situación actual del país. Me sentía en una posición privilegiada para hacerlo, siendo yo un ruso hispanopalante que conoció por recuerdo personal y ajeno la antigua Unión Soviética. Un atendiente en el bar de Buena Vista Social Club me comentó que, aun trabajando, él se siente pobre y malnutrido. “¿Donde está la proteína?”, se puso a quejarse. Las señoras trabajando en la tienda del Museo Hemingway hablaron maravillas del Ché, pero confesaron tener “miedo al cambio,” a que les quiten sus ventajas como ciudadanos socialistas.

Todos coinciden en que la URSS era como la mano del padre que guiaba a Cuba como a su pequeño, y que cuando esa mano desapareció, Cuba no estaba preparada, y deambuló... pero sobrevivió sin perder su clase. Y de allí muchas de las maravillas de la gente cubana, que ahora tiene ese don de la sobrevivencia creativa.

Me quedé con la sensación de que la gente en Cuba conserva cierta dignidad de espíritu que el mundo consumista está destruyendo. A lo mejor estoy romantizando las cosas, aunque tengo fama de ser demasiado pesimista. O a lo mejor el viaje me ha cambiado. Quién sabe... Mi plan para Cuba consistía en desprenderme de cierta letargia que se había apoderado de mi vida. Ahora que estoy de vuelta en casa, me siento más letárgico que nunca, porque preferiría estar en La Habana.

Por: Alex Brovtsyn

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Calos, cicatrizes, imagens

Beba as nuvens, que a sêde sede.
Caminhe as ruas, que a cidade arde.
Percorra a idade, que o tempo pede.
Engula os ares, que limpa o céu.

Seus segredos, traga nos bolsos.
Suas vontades, com novos olhares.
Tuas risadas, em novos destinos.
Teus tropeços, deixe nas pedras.

Pés, dedos e olhos,
em sinfônica dissincronia.
Calos, cicatrizes, imagens,
a centímetros da poesia.

Que cicatrizes ganhou a ilha
nessa conversa com uma baía!

Por: Leo Coutinho

domingo, 8 de agosto de 2010

Curtos recortes do cotidiano

Escolha um número e leia: 02 - 17 - 26 - 09



09
Estava assobiando um regaton qualquer quando senti que algo havia acertado minha cabeça. Era relativamente leve, foi o susto que quase me jogou no chão. Paralisado busquei alguém que tivesse testemunhando o ataque. Sorte, ninguém. Perto, no chão, algumas folhas amarradas com barbante denunciavam seu conteúdo. O Granma é o jornal que todo velhinho faz fila pra comprar de manhã cedo. Eu, distante de uma fila, tive a sorte de receber um exemplar na testa enquanto sentia os ares matinais da varanda do apartamento de Margarida. A imensa habilidade do entregador ao arremessar o jornal pra aquele segundo andar, como se fosse uma granada, me fez entender tal sinal, advertência sobre minha desatenção com os meios de comunicação em massa. Dessa maneira, quase imperativa, fui me inteirar da liberdade de expressão socialista. "Gracias caballero!".

26
- E você de onde é? Me questionou a velhinha sentada em uma cadeira um pouco mais distante. Respondi depois de uns segundos tentando reconhecer a localização da voz cansada. Com a mesma capacidade de surpreender exclamou "Roberto Carlos", com um sotaque truncado. E antes que eu desse continuidade ao papo além da risada, me perguntou se ele ainda estava vivo. Ficamos ali conversando até a sessão começar, ela rasgou meu ingresso, me deu a pequena metade e eu entrei pro filme. Me custou um peso cubano, preço simbólico no sentido mais forte de uma coisa barata... Mas tinha um detalhe: "aire condicionado roto". Só em ler o aviso no vidro da bilheteira o calor já se multiplicava. Tinha que chegar calmo, a passos lentos, armado com água gelada e uma folha de papel pra me abanar. A verdade é que depois algumas sessões já estava me acostumando com aquele clima do Cine La Rampa. Na maioria das vezes tal "incômodo burguês" era esquecido com o inicio da projeção, como naquele dia. Mastigando "Underground", de Kusturica, saí caminhando pela rua, agora molhada pela chuva rala. O choque entre ficção e realidade, calor e chuva, personagem e cenário, exalou de novo aquela mesma pergunta de Dona Flora, a velhinha do cinema, se repetindo de uma maneira ainda contestadora... talvez por ter surgido agora em primeira pessoa.

02
Quase três da madrugada e eu estava entre as ruas escuras de Havana em um taxi com dois colombianos. Gritando Andrés não parava de repetir que queria ver umas putas, como se não existissem em Bogotá. Em sua última noite em Havana tentava fazer de tudo pra aproveitar aquelas poucas horas, enquanto Hernando explicava ao taxista como chegar na casa do escritor José Lezama Lima. Nos perdemos umas três vezes até encontrar... não as putas, mas a casa. Paramos, ficamos olhando a enorme porta fechada enquanto Hernando fumava um dos seus cigarros amassados. Abri meu pequeno bloco de anotações e anotei a rua, a hora e um palavrão. Pisei num cocô de cachorro, contamos uns casos engraçados, brincamos com as bengalas de Andrés... Rodamos quase uma hora mais naquele Lada branco ano 86. Encostei o queixo sobre a janela, piscando os olhos e misturando as luzes amareladas com o vento salgado, noturno, carregado de direções.
17
Estava pensando em algumas frases, alguns emails, pessoas, enquanto acompanhava o som das ondas rompendo-se contra o malecon, o barulho dos carros passando ao lado. Tantas são as imagens que essa ilha nos arremata pela simplicidade... Não importa quantas vezes foi fotografada, filmada, descrita, aqui o cotidiano parece carregado de uma sedução mais apurada. Ciente de que tais diferenças e detalhes eram encontrados nesse romântico olhar quase virgem, estrangeiro, questionei também o quanto havia me aprofundado, ido além de certos níveis do "ver". Lembrei da canção de Caetano "O estrangeiro", que faz mais ou menos essas mesmas divagações: "E eu menos a conhecera mas a amara... sou cego de tanto vê-la, de tanto tê-la estrela, o que é uma coisa bela". Nem tudo é belo em Havana, e pra senti-la precisei largar minhas projeções sobre ela, sabendo apreciar seus cantos não por aquilo que eu queria que ela fosse, mas pelo que ela é. As tantas pessoas que conheci, as ruas que ainda cruzo, tudo que estudei, aprendi e questiono me levam pra um sentido que acredito ser mais amplo, carregado de irreparáveis transformações. Outro não sei se sou, mas sei que nunca mais serei o mesmo. Voltando do malecon comprei maní, tirei umas fotos, cheguei no meu quarto, olhei minha mala, lamentei... Epa, mas espera aí, calma, ainda tenho alguns dias pra celebrar.

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domingo, 1 de agosto de 2010

Esboçando Cuba

À Havana.
por: joao inada

Cuba parou quando nos viu. Ou talvez já estivesse parada, em meados de 1959 de 2010, ereta e vestida de uniforme militar, fedendo a vulgaridade e a pouca moça virgem, e com bastante musica na esquina. Esquinas com cheiro de cubano, cubano de verdade e olha que cubano mesmo não é lá tão cheiroso. Olha esse cheiro. Cheiro de centro urbano quente e tropical bem sujo-carismático; cheiro de gente na rua, de gente suada, de prédios maravilhosos caindo aos pedaços; de malandragem no ritmo de caminhar, cheiro de Compay Segundo fumando puro; mas junto com cheiro de coisa bruta, concreta, cheiro de medo, aquele cheiro que te lembra a ficar de sentinela pra não pagar de otário, porque depois sai caro — especialmente quando tudo é tão caribe. Não sei, pode ser que cheire até a soteropolitano em dia de iemanjá num vagão de trem lotado rumo ao inferno de uma praia ou de uma procissão, mas que pelo contrário está indo trabalhar, se não vai preso; e ainda dizem que Salvador é mais Santiago. Tenho lá minhas dúvidas.
... pode-se que vagando sempre se ouve o gingado das palavras, e tudo soa tão sonoramente despluralizado — um enfeite do ditorredito popular que muito se ouve mas que pouco se entende, graças a deus.
Querendo tente imitar o incompreensível jogo cubano de falar atirando mastigados melódicos, uma porção deles em pedaços de língua pra tudo quanto é lado(essas são as regras): os resultados surpreendem sempre — especialmente se você for vegetariano. Porém entende-se, entende-se sim, apesar de não ser recíproco. As conversas custam a enveredar mas seguem e vão adiante sempre fugindo da ilha, pra’quele mar lá dos EUA.
Pois então atiram-se os aniversários feito metralhadora. Cuidado, vai a dica: cada velha parada numa esquina de La Havana faz aniversário todos os dias, por isso quer que você pague pelo rum da festa ou pelo porco assado, que alias já está no forno. Obviamente sensibilizado com a decadência destes seres matriarcais, e ainda mais pelo convite irrefutável de um gole de rum claro como o dia, despeje o pouco do dinheiro que lhe resta nas mãos amassadas dessas cubanas e tome no cuc.
Mas vale a pena. Até aqueles charutos nojentos comprados a preço de ouro valem a pena. Podem ser uma merda mais são cubanos. Aquele trago de rum que te faz vomitar também vale a pena; reconhecer Maurinho e o diabo no meio da rua — alunos, coitados; uma Ivett cheia de lindeza e malemolência; uma escola perdida no mundo (“isso sim é golfar com dignidade!”); todo comunismo descaracterizado e persistente que vem no pacote de turismo político — é pra mergulhar e sair bêbado mesmo —, e beber a estátua de Hemingway; se perder no museu fechado do José Lezama Lima todos os dias, quentes e ensolarados com um copo de cana. Passear pelas ruas e por aquele cheiro que marca e que não gasta, nem por nada que não gasta nesse mundo. Cheiro de tudo misturado com verdade bem pouca, com solidez e persistência política unilateral, e aquela pitada de sempre: santeria (com um pouco de Roberto Carlos). Dá saudades só de pensar em ser cubano, de pinga.