sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Uma alergia contra a acomodação

Um, dois, três espirros me fizeram ter certeza que meus pés já se firmavam sobre a crosta soteropolitana... Descobri recentemente que minha rinite alérgica se manifesta não por culpa de cantos empoeirados cheios de ácaros ou de gatos perdendo pêlo, mas sim, quando minhas mucosas nasais captam os ares do cotidiano, do dia-a-dia feijão com arroz. O ponto, o ônibus, a rua frenética, passarela mijada, universidade, pão com queijo e internet. Talvez a respiração ofegante de novos dias em novos lugares e novas pessoas não precisem expulsar nada do corpo, mas, pelo contrário, apenas absorver... É como se ela (a Senhora Rinite) precisasse reconhecer seu espaço e norma para agir.
Chicoteei o ar com a cabeça mais uma vez no décimo terceiro espirro em um plano seqüência de um minuto e meio entre a cozinha e o banheiro. Admito: infelizmente tive que xingar. Cambaleante me debrucei sobre a pia pra espirrar com toda força, como se empurrasse, esmurrasse aquela sensação de voltar ao normal. Seria uma alergia contra a normalidade ou contra a comodidade de certos hábitos antigos? E em pensar que em alguns momentos acreditei estar livre de algum deles, consequentemente livre das visitas da Senhora Rinite.
Voltar e reencontrar é bom, precioso e no fundo reconheço a importância de uma boa rotina, o problema é não fazê-la da maneira que se quer, tropeçando sempre em algumas procrastinações clássicas. Fazer o que se quer e se deve é mesmo uma arte...
Admito: me droguei com o antialérgico vermelho e me entreguei a lerdeza letárgica de acreditar que uma hora tudo acaba bem. Talvez estivesse sendo exigente demais com os poucos dias que precederam o tal retorno... Um retorno que diz, refaz e potencializa tanto aquelas experiências logradas na ilha desconhecida. Desfazer completamente a mala é o verdadeiro sinal que aquela viagem incrível e utópica terminou, por isso que ainda mantenho algumas peças de roupa menos queridas na mochila como se fosse uma instalação natural do meu movimento contínuo, agora ativado através da memória, conversas, fotografias e cicatrizes.
Então que venham todos os (mentira, alguns...) espirros cada vez que esquecer dessa pretensão melhor de manter as coisas para além do mofo acomodado do mais ou menos.

ps: ainda bem que Senhora Rinite não sabe ler.

7 comentários:

Alessandra Negrão disse...

Interessante que aconteceu o mesmo comigo quando passei 15 dias na Europa. Apesar de todo frio, a Senhora Rinite lá não foi me visitar. Porém, foi só chegar no aeroporto que... PIMBA! Lá estava ela à minha espera no saguão do desembarque! Um saco! Decidi que me drogar constantemente é melhor do que não poder conviver socialmente sem permanecer com a cara inchada de tanto coçar.

Tássia disse...

kkkkkkkkkkkk

genial!

Comigo tbm foi a mesma coisa, mas não só a Senhora Riniti, como também sua amiga Dona Dor de Cabeça.

Tá certo, tá certo! Eu entendi que há momentos de absorver e há momentos de expelir, mas só acho que essas "visitinhas" poderiam ser mais curtinhas... rsrs

Por isso os viajantes são pessoas saudáveis...

MeNina disse...

A rinite é a alergia de readaptação a novos (ou velhos?) ares... :)

subliterato disse...

pelo jeito estou na readaptação aos velhos..

Gabriel (Thonga) disse...

essa alergia eh minha rotina aaaahr (mas que preciso viajar, embora viaje tanto (tendeur), preciso). E aqui estou na rotina do trabalho, para no fim do mes poder viajar mais =P (que a supervisao nao saiba o que estou fazendo neste smartphone: saindo da rotina)

Urânio Coutinho disse...

Essa Bruxa Chamada RINITE ...kkkkkk esta com os dias contados ...vamos conversar desde AGORA ....KKK Mom #Escreva# pra ELA a carta de separação ...Divórcia-ti ..da tal RENETE .titica ..KKK ...Porque és Grande e capaz de mudar até os átomos do teu corpo ...kkk .. pra que ela morra de inanição...UAU ..manda bala ...Beijos Father

Acompanhante disse...

Adorei o texto e gosto da idéia de pensar que a minha rinite é um sinal para mudanças...que venham de vez em quando!