sábado, 10 de julho de 2010

Devaneios entre cinema, futebol e novela

A grua sobe lentamente acompanhando o passo do personagem. O movimento ganha um efeito épico também pela sombra multiplicada por quatro no chão. Atrás, alguns outros acompanham toda a caminhada com aflição. Vendo os penâltis de uma partida qualquer da copa observava como as transmissões dos jogos estão cada vez mais cinematográficas. Se naturalmente o futebol sempre teve sua própria estrutura narrativa com início, meio, surpresas, vilões, heróis e finais, agora as câmeras parecem saber captar melhor essa dinâmica de contar histórias. Os mais diferentes ângulos, as câmeras lentas captando pequenos detalhes de drama, de comédia, as reações dos coadjuvantes, da torcida se reconhecendo nos telões, dos jogadores enfeitados como atores... Tudo parece girar não apenas em torno da bola, mas também sob a idéia de uma construção de imagem, de uma complexa e enorme mise en scène. Provavelmente esse efeito tenha sido ampliado por estar acompanhando alguns dos jogos dentro de uma sala de cinema com 1.200 lugares. Aqui em Havana também tiveram a ótima idéia de transmitir os jogos nos cinemas a partir das oitavas de final. Como cinéfilo tentava entender essa exótica relação futebol/cinema, e como torcedor observava a torcida dos outros. No jogo do Brasil contra o Chile, por exemplo, havia uma massa verde amarela barulhenta composta principalmente por cubanos com algum tipo de simpatia pelo Brasil... Provavelmente um efeito dos sucesso que as novelas brasileiras fazem por aqui. Outro dia quase que vi um bloco inteiro de "A favorita" só pela graça de ver a dublagem ainda mais melodramatica de Flora. E eu que nunca sei o que dizer quando me perguntam sobre o bendito final. ", en Brasil hay también estes tipos raros que no ven novela, e peor, no entienden de fútbol." Mais raro ainda que assistir em Cuba essas minhas duas piores especialidades, é entender o quanto elas são absorvidas no cotidiano do país, elementos esses tão distantes da sua tradição cultural revolucionária. No final do último jogo brasileiro, entre os cubanos, reconhecia a presença de alguns compatriotas captando da multidão enfáticos "caralho!" entre outros termos técnicos depreciativos, enquanto era cada vez mais certa a eliminação da seleção canarinho. Realmente depois de acompanhar as dramáticas eliminações de Gana e de todas as equipes que eu tinha alguma torcida compreendo um pouco mais os cubanos que torceram pro Brasil, pra Espanha, que assistem novela, e que questionam minha identidade brasileira. Certamente ambos os lados, por diferentes meios, estão buscando ampliar essa tal identidade, como uma maneira talvez de respirar e entender o resto do mundo, que pra eles se faz tão presente através do turismo. Se eles não podem viajar com tanta facilidade como os outros, vão fazê-lo vendo novelas, filmes, usando Nike, e tudo aquilo que aparentemente os mantenha conectados. Essa maneira de troca me parece um pouco perversa, afinal todo um diálogo acaba enquadrado em um modelo de porta entre-aberta.

Mas espera, estava tentando falar de outra coisa... Acabou e o Uruguai acaba de perder... Merda! Vou no cinema, agora ver um filme.

7 comentários:

Urânio Coutinho disse...

Realmente as teus textos tenho a sensação que estou andando pelas ruas de HAVANA ,.....Ops!!! Passei perto kkk...bastantes reais. Obrigado pela notícias
Abraços
Fhater

Urânio Coutinho disse...

Realmente as teus textos tenho a sensação que estou andando pelas ruas de HAVANA ,.....Ops!!! Passei perto kkk...bastantes reais. Obrigado pela notícias
Abraços
Fhater

Paulo disse...

Ramones, muito legal lhe ver escrevendo sobre futebol, sobre Copa do Mundo, sobre novela, com uma calma de quem está em Cuba... achei um texto maduro porque cheio de sutilezas.

abraços, veio!

Carlos Vin disse...

hehehehe
Muito bom o texto... Na dose certa
Deve ser divertido assistir um jogo no cinema ne
Sucesso meu velho!!

Tassia disse...

Bem, a Espanha ganhou... o colonizador, mas pelo menos é o primeiro título... rsrs

Eu lembro do final dessa novela... rsrs, mas também não vou contar!

bjoooo

Anônimo disse...

Oh Monziko, mto bom o texto...
So nao imagino vc assistindo um capítulo inteiro de uma novela, heheheheh...
Mas ai com certeza foi bem diferente..

Sucesso ai,
beijos!

Sarah Li disse...

O que adoro no futebol é a
possibilidade de ver uma grande jogada sob diversos ângulos e velocidades. Quando a super ágil equipe de edição consegue captar aquele instante de segundo e reduzir a velocidade da ação é quando o futebol mais me emociona. Me encanta ver os corpos em mínimo movimento, a entrega e emoção dos jogadores em campo minunciosamente reveladas.
Quanto à exibição dos jogos encontrei num shopping na Galicia, um cartaz bastante convidativo que anunciava a exibição de partidas da copa em 3D. Me perguntei como será possível? Eles já têm então tecnologia suficiente pra poder exibir em 3 dimensões. Adoraria ter visto o gol do Iniesta na sofrida partida com a Holanda perto de poder tocar.