quinta-feira, 3 de setembro de 2009

um filme sobre Você

O fragmento, a memória, o incompleto.
"Moscou"
é feito disso... ou foi disso que eu o fiz. Um filme que não consigo parar de pensar e re-fazer. A expectativa que antecede um filme de Eduardo Coutinho me leva sempre a impulsionar seus significados. Entre o que eu esperava e o que realmente É, sempre surge algo novo. Novo que aqui precisa de um "N", assim mesmo. Se nos filmes anteriores tal descoberta era feita em uma confortável zona de análise do discurso/narração do outro, "Moscou" parece não ter nenhuma fresta de contato simples ou direto que ajude a descortinar suas imagens e palavras. Esse impedimento não é inconsequente ou gratuito, mas necessário. No texto denso de Tchekov, "As três irmãs", Moscou (a cidade) é a lembrança e o desejo inalcançável. Em cena a atuação dos atores/personagens (Grupo Galpão) é mesclada as memórias pessoais através de fotografias e depoimentos. Coutinho radicaliza seu discurso narrativo sem direcionar seu olhar unicamente sobre o processo de criação (como eu pensava que fosse) ou sobre o já exaustivo debate ficção e documentário. Experimentamos a sensação de incapacidade, da ausência que impregnam a história... Dessa sensação virão nossas constatações. Ausências e impossibilidades. Atingimos o que há de real em nós mesmos, por isso esse documentário acaba sendo sobre cada um que o assiste... Não há maior originalidade.
Entre o que esperava e o que o filme foi, estava eu, só (literalmente) em uma sala escura com a(s) minha(s) Moscou... foi doloroso, inesquecível.

Tchecov não tem nenhuma culpa do que eu fiz. Aliás, eu ainda nem sei porque fiz este filme.” - Coutinho

5 comentários:

Danilo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Cinemanaveia disse...

Verei urgentemente!!!!

Danilo Canguçu disse...

Não sei direito como discordo de uma coisa que vc falou, Ramon. Quando vc diz que Moscou não é "unicamente sobre o processo de criação", eu discordo um pouco. Achei um pouco forte isso. Acredito, sim, que a base que sustenta o documentário é o processo de criação - o que aliás, me encanta -, mas, achei esse unicamente um pouco tenso.

Não sei...

E certamente lerei mais o seu blog!

Grande abraço!

subliterato disse...

danilo,
pra mim ele foi além disso, por
isso coloquei q coutinho ñ foca seu olhar 'unicamente'..
há claro esse processo, inclusive
acho q tbm é um 'poema sobre a arte misteriosa do ator – e seu labor, documentado com bastante atenção a sua existência como tal' (e.valente)
enfim, é muito bonito!
espero q volte mesmo,
abraço

Cinemanaveia disse...

Sabe aquela história de livro de cabeceira? Pois é. Pra mim moscou é um filme para termos na cabeceira, para nos ninar, pra ser o último pensamento do dia. Não consigo me desligar dele. Uma frase ficou ecoando na minha cabeça ao terminar de vê-lo: “Cuidado com o que você planta na vida”... Frase de abertura da peça por Elis, assisti ano passado no fiac. Fiquei com uma vontade urgente de rever sentimentos, atitudes, pessoas. Olhar o passado, repensar o presente, não planejar o futuro. Enfim, Coutinho me fez passar minhas memórias no filtro. Genial!