quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Meu pai já era velho. Passava o dia na cadeira de balanço que rangia a qualquer movimento que ele cometia. Era como um alarme, que provava que ele ainda se mantinha vivo. Se a cadeira um dia parasse de resmungar..
Então se apegou a uma mania de se mexer exageradamente. E a cadeira roncava como nunca. "É somente para nos mostrar que ainda está vivo" falava minha tia. Meu pai já era velho. Caducando. Acho que ele pegou a mania para mostrar a si mesmo.
Tinha uma bengala, que ficava ao seu lado, sempre prestativa. E usava para matar as formigas que ousavam passar por perto. Vez ou outra minha tia ligava a televisão, pela manhã, e o deixava vendo os desenhos da programação. O seu rosto era sempre o pálido e imutável.
A cadeira sempre rangia, a todo instante. Certa vez, ao tentar ligar a tv numa manhã, em que minha tia não estava em casa, se desequilibrou no meio do caminho e caiu. A bengala não estava na sua mão, mas aposto que tinha conseguido matar um monte de formigas de uma só vez. Peguei pelo seu braço e lhe acomodei de volta na cadeira, que até então balançava sozinha e leve, sem um corpo a lhe pesar. Liguei a tv.
Só não lembro exatamente quando a cadeira parou de ranger e as formigas dominaram a casa.
por: gigito

2 comentários:

MeNina disse...

chorei.

Unknown disse...

Ooooooo...
Que coisa mais linda...Lembrei de meu avô na roça, sentado em sua velha cadeira...
Boas lembranças da minha infância...
:)