sábado, 17 de abril de 2010

O paradeiro das folhas mortas

A pessoa que atravessava a rua naquele momento poderia ser a mesma de qualquer momento; poderia simplesmente ser a mesma que acenaria na solidão dos gestos e dos princípios. Assim, como em outras vezes , quando desenhando com os dedos um objeto desconhecido, poderia ter premeditado tudo naquele instante, seria assim que essa estória poderia acabar: poderia te olhar e relatar tão somente seu princípio e seus gestos. Longe de tudo, seu olhar acabaria diante daquele cinza que sua roupa me fazia recordar de um buquê de flores em preto e branco. Sem que pudesse contar da minha vida ou de como o cheiro de outubro restava ainda em sua própria feição, ninguém saberia do seu corpo. Naquela noite, mais do que uma mentira contada no mais absoluto silêncio, eu te abraçaria e seria como se seu corpo nunca fosse tomado pelo silêncio das folhas mortas. Nunca ninguém saberia dos seus passos e dos destinos de nossas vidas. Como se ninguém existisse, seria apenas aquele gesto. Ninguém saberia de você nem dos caminhos das folhas mortas; Por mais uma vez, poderia ter repetido tudo que lhe havia dito. Diante do silêncio de mais um dia ,sem mencionar seu nome, a chuva então nos separaria em todo o seu silêncio: “Há quanto tempo chovia?” Queria te observar por mais um instante, e poderia te chamar como sempre te chamei: “há quanto tempo te olhava?” perguntei. Contudo, queria ter lhe dito das folhas mortas , quando antes te abracei. Poderia ter lhe dito: “Olhe para as folhas...” lembro de você sorrindo. Era como se nunca tivesse lhe dito das folhas mortas, das folhas desse outubro afundado.
Por: Francisco Gabriel

Um comentário:

subliterato disse...

O caminho das folhas mortas nos mostrando o quanto de vida há em seus mínimos detalhes e personagens!