segunda-feira, 3 de agosto de 2009

fragmentos de um seminário

Cinema é fetiche!
E o frenético Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual busca cativar a cada ano ainda mais esse estranho objeto de adoração e desejo. Ao entrelaçar cinéfilos e quase-cineastas aos debates, filmes, performances e encontros o Seminário amplia as possibilidades cinematográficas baianas ao unir-se com outras artes e vontades. Em sua quinta edição conseguiu dar a Salvador a rara chance de ver um filme de Godard em 35mm depois de pestanejar numa poltrona vermelha no meio de um debate sobre cinema e filosofia e ainda mais tarde bater palmas ou xingar curtas e longas metragens. Claro, nem todos os debates foram sonolentos, e a sensação de usar a imponência do Teatro Castro Alves como sala de aula, e melhor ainda como cinema, é no mínimo excitante. A recorrente frustração construtiva de não conseguir ver tudo o que se pretendia é parte de todo esse exercício de seis dias, que se fez também nas tantas idas e vindas entre o TCA e o Teatro Martim Gonçalves (onde aconteceu a Retrospectiva Godard) provando que o cinema, além de fetiche, também é busca por fôlego no meio de tantos mal alimentados movimentos seguidos de transpiração. Nos intervalos das sessões e debates o Seminário era igualmente construído, afinal o que seria dele e da sétima arte sem as muitas conversas, encontros, risadas e tolerância com a queima constante de cigarros na porta do foyer?! Falar de todos os filmes instigantes é meio impossível no meio da overdose, prefiro que isso aconteça em doses homeopáticas e seletivas. Pra começar quero premiar Intimidades de Shakespeare e Victor Hugo com o Prêmio Boca Aberta Sem Palavras do ano! A moça diretora Yulene Olaizola estava lá, subiu no palco, falou pouco e disse muito com o filme, que acabou infelizmente sendo pouco visto. Depois de ter lotado o palco da sala principal com metade da platéia, Pau Brasil a grande estréia baiana, de Fernando Belens, também conseguiu surpreender (pro bem ou pro mal), arrancando um gritante "Bravo!" do colega Navarro. Os curtas têm um papel fundamental no Seminário, além de darem o tom competitivo, garantem espaço pras produções baianas. No entanto foi desse aspecto tão nobre que o evento conseguiu provocar o maior dos equívocos. Eles resolveram dividir a premiação do melhor curta-metragem em duas categorias, baiano e nacional... Até aí nenhum absurdo, porém ao contemplar em ambas as categorias filmes de nossa terra (Cães e Nego Fugido) o evento agrediu o juízo de sua própria importância, premiando sim o estranho e desnecessário bairrismo. Aos meus coçantes olhos Os Sapatos de Aristeu foi o curta que conseguiu arrancar mais brilho. Houve ainda na última noite, além da tal premiação, um mini-musical-cabaré-bahiwood (?!), performance essa que arrancou vários suspiros de vergonha alheia da platéia, que aplaudiu mais no intuito de adiantar o término. Apesar desses momentos menos–melhores o Seminário acaba sempre deixando a vontade por mais, e junto com a Jornada de Cinema dá a cidade um pouco mais de empolgação e dignidade pra difícil arte de gostar e pensar Cinema. Mesmo com seus méritos consolidados não há garantias que o Seminário vá acontecer ano que vem, cansado de ficar com o pires na mão o organizador Walter Lima já avisou: “Não estou a fim de ter enfarte”. É a crise... Torcemos que role e que mantenha o foco no que sabe melhor proporcionar: bons filmes e adubo pra cabeça.

7 comentários:

Paulo disse...

Mas isso não pode acabar. Se o cara tá cansado e quer evitar um enfarte, melhor que aqueles que não corram esse risco, devido ao status da sua juventude, tomem a frente, o poder.

Paula Janay Alves disse...

Pois é Mon, apesar da vergonha alheia e das coisinhas ruins que aconteceram, acho que o Seminário é muito importante pra quem gosta de cinema em Salvador. E que tenha no próximo ano!

Unknown disse...

viajou msm em Aristeu hein?hehe
foi equivocada msm essa premiaçao.. e preferi Cães à Nego Fugido...mais um falando bem de Intimidades..e eu n vi..
vc viu Kynemas vei?!
Ano q vem qm sabe n tem um filme seu.. ou meu hehe

Eduardo Sampaio disse...

Excelente texto ramonzetes!! Concordo e assino em baixo em Quaaase tudo! Exceto quando chega na parte dos curtas, tenho uma opinião diversa que você conhece muito bem. Como o tal do Aristeu não conquistou a minha simpatia, fico com o "bairrismo" citado. Para mim, o único problema da premiação foi inverter a ordem dos fatores, já que Cães merecia ter sido o melhor nacional e Nego fugido (sou meio vacilante quanto a ele) deveria ter ficado com o melhor baiano. Mudando ligeiramente de assunto, o final do Seminário foi no mínimo melancólico, nem o "Tio" (mascote oficial do seminário) conseguia mais empolgar a platéia visivelmente cansada com a falta de originalidade e surpresas num encerramento fosco.

Alessandra Negrão disse...

Eu já estava sentida por não ter participado, agora estou ainda mais, rs... Mas é isso mesmo, a gente escolhe as prioridades na vida, não deu pra mim. Por isso mesmo, espero que se mantenha no próximo ano, para que eu tenha uma nova oportunidade. Ótimo texto, dá vontade de ter estado lá.

Anônimo disse...

Ramovie.. rsss
Mais uma vez te parabenizo pela forma com que escreve, muito bem e fazendo com que mesmo na correria, nos prendamos a ler.

Pena mesmo se acabar un evento importante assim... mas desabafando sobre o que estava aqui pensando... essa coisa de tudo entre RJ e SP é um balde de água fria, pq acabam desacreditando em eventos e patrocinios dos mesmos em outros lugares. Afinal a cultura está cada vez mais se mercantilizando, a onda é... isso dá ou nao dá retorno, ou seja né... grana. (pena!).

Outra coisa que tenho de desabafar... minha gente, cada vez mais, odeio essa forma que a mídia televisiva, novelas e cine (nem todos, claro) tëm explorado ou mostrado o povo e a cultura baiana, de forma caricturada, semi-analfabeta, de fala incorreta, lerda, sinto como... o circo do palhaco sem graca.

Na verdade pode haver tudo isso sim, já que temos de classes de miseráveis a ricos em todas as regioes do país, mas ficar sempre batendo nesta tecla e em veículos de massa.

Eu particularmente, sempre trato de desmistificar essa idéia de Bahia, como também de Brasil (de mulata, carnaval e fultebol), sempre uso uma palavrinha... TAMBÉM, mas nao é só isso. Até pq vendemos nossa imagem, a nossa cultura, nosso povo.

Desculpem meu jornal, mas precisava comentar isto, mesmo longe, fico sempre dando uma olhada no que tá rolando por aí e algumas coisas me desagradam mesmo, pq amo essa terra.

Abracos a Ramovie e Cia.
Fabio Rabelo

Tássia disse...

Que bom que Cães foi premiado, é maravilhoso.. uma pena que eu não pude ficar para a premiação. Não entendi muito bem essa história de "mini-musical-cabaré-bahiwood" o que foi isso?

Gostei do seu blog ;)