quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Sobre Limite e Fôlego

Enquanto admirava o cartaz do novo filme de Ki-duk Kim, "Fôlego", um Déjà vu incômodo começou a me perseguir... Logo veio a luz aliviante me lembrar a origem de tal sensação: "Limite", de Mário Peixoto. A imagem de homem algemado em torno de uma mulher uniu esteticamente os dois filmes na minha cabeça. 76 Anos separam o antológico filme brasileiro do recente e excelente sul-coreano, e ao assisti-lo percebi como haviam outras coincidências além da "estética das algemas". Ambos são sobre uma mulher angustiada em seu cotidiano, e também utilizam uma série de simbolismos pra abordar o desespero e a angústia humana. A diferença é que enquanto no primeiro a mulher se aprisiona ao homem(e é isso que a imagem representa literalmente), o segundo traz uma protagonista que busca e consegue justamente o contrário, ou seja, a libertação, contraditoriamente unida no abraço algemado de um prisioneiro prestes a morrer. Assim como na "Trilogia do Silêncio", do mestre faixa-preta Bergman, temos que apurar os ouvidos e captar a importância do silêncio (mesmo sendo "Limite", literalmente limitado pela impossibilidade técnica da época) na composição narrativa das obras.
Enquanto os créditos de "Fôlego" começaram a rolar sobre a tela escura, percebi quantas coisas distanciavam tais filmes (escola cinematográfica, origem, ano, etc) e ao mesmo tempo como eles estavam interligados... Pelo menos no meu olhar pretensioso. Nem no Cinema, e nem em qualquer arte, uma obra se constrói por si ou pela da intenção do autor... Acredito que a Arte só ganha uma função direta e prática quando intrometemos nosso olhar, e a contemplamos criticamente. Esses dois filmes ajudam na constatação de como o Cinema de verdade não envelhece, e que o tempo é mesmo só uma invenção, como representado no relógio sem ponteiros de "Limite".

por:ramon.

4 comentários:

subliterato disse...

é.. ta na hora de variar de assunto.. kk

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Ethaa Mon, q variada foi essa???rsss...
Nooossa, a cada novo texto seu me surpreendo com tua sensibilidade cinematográfica, assim como tua forma de escrever...Sempre gostei dos teus textos, mas não vou mentir que vc tá ficando cada vez melhor..
Concordo com vc que a arte só tem um sentido a partir do memento que lançamos nosso olhar crítico sobre ela...

Os temas e diretores sempre dialogam, mesmo em épocas diferentes...Afinal a angústia humana, o desespero, sempre estarão presentes em nossas vidas, não é mesmo?!

Mon, não sei nem o que falar..Agora acho que meu silêncio diz mais..

Parabéns querido..
=)

MeNina disse...

Não vi nenhum dos dois filmes, mas o texto tá muito bom, Mon.

gostei muito. beijo