segunda-feira, 21 de julho de 2008

Saramago

...pois desde a aurora do mundo sempre os incêndios atraíram os homens, há mesmo quem diga que se trata de uma espécie de chamamento interior, inconsciente, uma reminiscência do fogo original, como se as cinzas pudessem ter memória do que queimaram, assim se justificando, segundo a tese, a expressão fascinada com que contemplamos até a simples fogueira a que nos aquecemos ou a luz duma vela na escuridão do quarto. Fôssemos nós tão imprudentes, ou tão ousados, como as borboletas, falenas e outras mariposas, e ao fogo nos lançaríamos, nós todos, a espécie humana em peso, talvez uma combustão assim imensa, um tal clarão, atravessando as pálpebras cerradas de Deus, o despertasse do seu letárgico sono, demasiado tarde pra nos conhecer-nos, é certo, porém a tempo de ver o princípio do nada, agora que tínhamos desaparecido. ...

O Evangelho Segundo Jesus Cristo, José Saramago - Pág. 168/169

3 comentários:

MeNina disse...

Que bonito, isso... Me lembrou Empédocles. E concordo com ele; acho que não só apreciamos fogo como também somos fogo, ou fomos feitos de.

Quero ler esse livro, menino. Voltei.

Beijo

MeNina disse...

continuei aquilo que você me pediu, menino.

:)

lekineka disse...

saramago é fantástico com sua escrita. p mim, é injusto falar verbalmente sobre ele. não há palavras e nem me ousaria a tanto. fico no "fantástico!"