terça-feira, 29 de novembro de 2011

Não há vagas nos estacionamentos


Não há vagas nos estacionamentos
Tão pouco há vagas nas ruas.
Não há vaga em canto algum,
Nem para os carros
Nem para o olhar da moça ao outro lado.

Vagam os gestos pelos olhos de outros,
E não existe vaga que já não fosse de outro.
Definitivamente, não existe preço melhor a pagar
Do que o preço da falta de vagas a pagar.

Não há vagas, nem mesmo nas lojas
Onde se diz em palavras garrafais: há vagas para clientes
Sem vagas.
Não existem as vagas,
Vaga-lumes-divagares na acepção mais vaga da palavra.

Há vagas sim. E há vagas não.
Pelas vagas dos que vagam perdidamente pelas várzeas,
Largas vagas que nos restam nas esquinas Vargas.
E se existem mais Vagas do que anúncios,
Sempre mais vagas hão de existir que Getúlio.

Eu sei que há vagas e ponto final.
E mesmo que ninguém diga que saiba,
Eu sei das vagas, das caras, ruas e praças.
Eu sei da vaga madrugada

Pelas ruas vazias,
Onde qualquer vagabundo,
É mais vaga-lume do que quem diz.
E vagueando pela praça,
Apertando o vaso constrito desse cópia-poema,
Olheio o vago sujeito composto,
O primeiro desse justo-esboço.

E há uma vaga-novembro nesse exato momento,
Desavisada e oca, vaza-poema.
Desencaixada, vaga e rouca,
Poucas palavras,
Largo-pobre-vago-poema.

(Francisco Gabriel Rego)

3 comentários:

subliterato disse...

de tanto tropeçar nas palavras a gente acaba que acha um lugar pra se instalar... e eu sei que chico dedicou esse poema aos guardadores de carro.

Creuza disse...

ótimo poema. chico é o maior.

Felipe Coutinho disse...

Este poema ficou excelente fazendo um constante jogo de palavras.