Mesmo diante de uma crise iminente e agônica o cinema baiano parece nunca perder a capacidade de questionar modelos, provocar a si próprio e sua história. Nessa perspectiva metalinguística Edgar Navarro constrói “Talento demais”, debochando e homenageando aqueles que se aventuraram nessa contagiante contradição histórica que é fazer cinema na Bahia.
Mesclando passado e presente, resgatando personagens e os confrontando numa mesma sequencia, Navarro expõe, através de nossos ícones cinematográficos, a incapacidade de nos libertarmos de uma constante crucificação política/ cultural que nos impede de produzir outros sentidos, histórias, espaços e ideias para nossas câmeras na mão. Estamos atados ainda a esses personagens, não apenas por celebração, mas como condição, não à toa Navarro costura sua narrativa através de um remake da emblemática cena Meteorango Kid, filme que já escrachava as mesmas questões mais de vinte anos antes. Todo esse alardeamento homenageador de “Talento demais” se edifica não apenas por seu tema, mas principalmente pela pela forma que imprime suas imagens. O vídeo falando de cinema parece insuficiente esteticamente ao mesmo tempo que reforça sua denúncia, sua febre, tendo o improviso no lugar da engenhosidade e criatividade, como foi com os cineastas que precederam Navarro e seus companheiros. A textura jornalística de “Talento demais” é ainda mais acentuada pela voz garbosa que nos guia em off pelas várias fases da nossa cinematografia. Talvez sejam essas contradições estéticas que Navarro queria nos expor junto dos depoimentos, das imagens de arquivo, da personificação desse cinema em cada um que surge na tela como diretor, realizador, ator ou personagem. Ali, mesmo meio inconfortáveis diante da fita magnética, unem suas angústias e provocações com uma dose aliviante de ternura e humor.
A lentidão e o talento (do qual o título une os sentido) desses processos cinematográficos no Brasil, na Bahia, demonstram que não bastam ideias para o fazer cinema, mas também resistência, dedicação e paciência. Ao fim de “Talento demais” tendemos a seguir por dois caminhos, ambos dolorosos: o desencanto apocalíptico ou a redenção a favor do transe encantador das imagens. Observando a carreira de Navarro antes e depois desse vídeo não é difícil definirmos qual a escolha mais evidente, necessária.
2 comentários:
Essas tarefas!!!
valeu!!!
Adorei o post como incentivo/ajuda à(s) disciplina(s), adorei o vídeo (as locações ficaram curiosamente mais bonitas do que são realmente) e Léo aparecendo como se fosse num juízo final, adorei a foto e o comentário de um filme que eu preciso ver.
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