- Você tava falando sobre uma idéia que surgiu assim meio do nada...
- A é... Queria escrever um conto, um conto alegre, sobre pessoas que ficavam rindo das lembranças na frente de uma casa, em um fim de tarde qualquer. Descrever lentamente como a cor do muro combinava com o tom das vozes, de como o vento atingia seus lábios como se fosse sua única função e desejo. Me parecia mesmo uma imagem contagiante, simplesmente. Algumas pessoas, quase como cantando, alto, rindo de si... Rindo de serem quem são, mas que eu não sei, apenas que sentadas ali na escada perto da porta celebravam, como em um ritual.
- Hum, bonito. E de onde foi que veio isso?
- Surgiu, de algum modo como se de uma lembrança perdida sabe. Uma viagem, se ergueu entre pensamentos confusos, ai cresceu. Sei também que havia uma senhora de cabelos e rugas brancas que pra falar sempre balançava suas braços, só abaixando quando a gargalhada lhe tirava maiores forças, batendo a palma da mão sobre a coxa. Isso me emocionou de um modo estranho. Como organizar uma imagem dessas assim em palavras?
- E pra que organizar? Tem coisas que não podem ficar simplesmente largadas, elas tem que sair de algum jeito... Sabe aquela letra que o Lobão fala sobre o Caetano?! Ele diz mais ou menos chega de verdades, viva alguns enganos... Gosto disso, acho que ele tenta dizer isso sabe. Viver enganos, temer menos, sei lá.
- É, normalmente o que eu gosto assim de primeira sai com essa dificuldade, ou nem sai. E o que parece besta se vai que eu nem percebo, e já está em algum papel rabiscado... Depois aí vou tentando melhorar e tal.
- Ou seja, num primeiro momento a idéia tem que parecer ruim... A prática acaba tragando mesmo aquilo que parece menos pretensioso.
- É, uma lógica engraçada né. Essa dificuldade... Tem um documentário do Chris Marker, eu nunca me lembro do nome, começa com uma imagem que o cara considerava a representação maior da felicidade, e que por isso parecia não funcionar com mais nenhuma. A montagem iria...
- Mas o cara fez o filme né?!
- Fez, e eu gosto pra caralho.
- Então... Você já tem uma boa referência, e justamente...
- Pô, já passa das três.
- Tem que acordar cedo amanhã?
- É, acho que vou correr, pra ver se as soluções de idéias correm atrás de mim. Muitas delas me surgiram assim, quando corro.
- É uma boa. Exercita as duas coisas, tem gente que vai pro analista.
- Acho que foi um sonho.
- Sonho?
- Essa coisa das pessoas rindo na frente de uma casa...
- Pois é, sonhos são as coisas mais desorganzidas que existem, e uma das melhores. Lembre aí o nome desse filme.
- Amanhã quando tiver correndo eu lembro.
- A é... Queria escrever um conto, um conto alegre, sobre pessoas que ficavam rindo das lembranças na frente de uma casa, em um fim de tarde qualquer. Descrever lentamente como a cor do muro combinava com o tom das vozes, de como o vento atingia seus lábios como se fosse sua única função e desejo. Me parecia mesmo uma imagem contagiante, simplesmente. Algumas pessoas, quase como cantando, alto, rindo de si... Rindo de serem quem são, mas que eu não sei, apenas que sentadas ali na escada perto da porta celebravam, como em um ritual.
- Hum, bonito. E de onde foi que veio isso?
- Surgiu, de algum modo como se de uma lembrança perdida sabe. Uma viagem, se ergueu entre pensamentos confusos, ai cresceu. Sei também que havia uma senhora de cabelos e rugas brancas que pra falar sempre balançava suas braços, só abaixando quando a gargalhada lhe tirava maiores forças, batendo a palma da mão sobre a coxa. Isso me emocionou de um modo estranho. Como organizar uma imagem dessas assim em palavras?
- E pra que organizar? Tem coisas que não podem ficar simplesmente largadas, elas tem que sair de algum jeito... Sabe aquela letra que o Lobão fala sobre o Caetano?! Ele diz mais ou menos chega de verdades, viva alguns enganos... Gosto disso, acho que ele tenta dizer isso sabe. Viver enganos, temer menos, sei lá.
- É, normalmente o que eu gosto assim de primeira sai com essa dificuldade, ou nem sai. E o que parece besta se vai que eu nem percebo, e já está em algum papel rabiscado... Depois aí vou tentando melhorar e tal.
- Ou seja, num primeiro momento a idéia tem que parecer ruim... A prática acaba tragando mesmo aquilo que parece menos pretensioso.
- É, uma lógica engraçada né. Essa dificuldade... Tem um documentário do Chris Marker, eu nunca me lembro do nome, começa com uma imagem que o cara considerava a representação maior da felicidade, e que por isso parecia não funcionar com mais nenhuma. A montagem iria...
- Mas o cara fez o filme né?!
- Fez, e eu gosto pra caralho.
- Então... Você já tem uma boa referência, e justamente...
- Pô, já passa das três.
- Tem que acordar cedo amanhã?
- É, acho que vou correr, pra ver se as soluções de idéias correm atrás de mim. Muitas delas me surgiram assim, quando corro.
- É uma boa. Exercita as duas coisas, tem gente que vai pro analista.
- Acho que foi um sonho.
- Sonho?
- Essa coisa das pessoas rindo na frente de uma casa...
- Pois é, sonhos são as coisas mais desorganzidas que existem, e uma das melhores. Lembre aí o nome desse filme.
- Amanhã quando tiver correndo eu lembro.
2 comentários:
Muito legal!
Acho que no fundo as coisas acontecem assim: temos que correr para tudo correr junto. Afinal, os sonhos são assim... não são?
"É, acho que vou correr, pra ver se as soluções de idéias correm atrás de mim. Muitas delas me surgiram quando assim, quando corro."
Acho que vou seguir esse conselho!
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