Há algo nesses caras que ajudam a entender minha personalidade...
(Talvez porque eu gostaria de ser um deles!!)
domingo, 27 de setembro de 2009
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
Que sim! Que não!
Peço um pedaço da luz
que alumie o cansaço escondido.
Peço um pedaço de som
que emagreça o verbo.
Quero uma queda surda
que pareça piada.
Quero uma queda sem dor
que não suje a calça.
Que sim! Que não!
Aguento mais que
tu dou nada.
Que sim! Que não!
Pertenço a lugar
algum. É nada?!
por: leo
que alumie o cansaço escondido.
Peço um pedaço de som
que emagreça o verbo.
Quero uma queda surda
que pareça piada.
Quero uma queda sem dor
que não suje a calça.
Que sim! Que não!
Aguento mais que
tu dou nada.
Que sim! Que não!
Pertenço a lugar
algum. É nada?!
por: leo
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
trecho 1h45'
Toco a sua boca, com um dedo toco o contorno da sua boca, vou desenhando essa boca como se estivesse saindo da minha mão, como se pela primeira vez a sua boca se entreabrisse, e basta-me fechar os olhos para desfazer tudo e recomeçar. Faço nascer, de cada vez, a boca que desejo, a boca que a minha mão escolheu e desenha no seu rosto, e que por um acaso que não procuro compreender coincide exatamente com a sua boca, que sorri debaixo daquela que a minha mão desenha em você.
Você me olha, de perto me olha, cada vez mais de perto, e então brincamos de cíclope, olhamo-nos cada vez mais de perto e nossos olhos se tornam maiores, se aproximam uns dos outros, sobrepõem-se, e os cíclopes se olham, respirando confundidos, as bocas encontram-se e lutam debilmente, mordendo-se com os lábios, apoiando ligeiramente a língua nos dentes, brincando nas suas cavernas, onde um ar pesado vai e vem com um perfume antigo e um grande silêncio. Então, as minhas mãos procuram afogar-se no seu cabelo, acariciar lentamente a profundidade do seu cabelo, enquanto nos beijamos como se tivéssemos a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de fragância obscura. E se nos mordemos, a dor é doce; e se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo de fôlego, essa instantânea morte é bela. E já existe uma só saliva e um só sabor de fruta madura, e eu sinto você tremular contra mim, como uma lua na água.
"O jogo da Amarelinha" - Capítulo 7
Julio Cortázar
Você me olha, de perto me olha, cada vez mais de perto, e então brincamos de cíclope, olhamo-nos cada vez mais de perto e nossos olhos se tornam maiores, se aproximam uns dos outros, sobrepõem-se, e os cíclopes se olham, respirando confundidos, as bocas encontram-se e lutam debilmente, mordendo-se com os lábios, apoiando ligeiramente a língua nos dentes, brincando nas suas cavernas, onde um ar pesado vai e vem com um perfume antigo e um grande silêncio. Então, as minhas mãos procuram afogar-se no seu cabelo, acariciar lentamente a profundidade do seu cabelo, enquanto nos beijamos como se tivéssemos a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de fragância obscura. E se nos mordemos, a dor é doce; e se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo de fôlego, essa instantânea morte é bela. E já existe uma só saliva e um só sabor de fruta madura, e eu sinto você tremular contra mim, como uma lua na água.
"O jogo da Amarelinha" - Capítulo 7
Julio Cortázar
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
contemplando 999
Achei graça quando Gigito disse: "Hoje é uma data de Deus!", não só pelo antagonismo ao místico e diabólico 666, mas também pela importância que as vezes damos aos números... Mesmo tão objetivos, frios, aleatórios, eles surtem efeitos tão subjetivos e viajantes.
Lembro da época que usava relógio de pulso e por inúmeras vezes ao consulta-lo flagrava uma sequência alinhada (tipo 15h 15'15''), e sempre achava que algo de insólito poderia acontecer no momento daquelas repetições.
(Uma mulher na fila do banco abre um envelope, descobre que está grávida e me abraça feliz enquanto pensa o que fará pra criar a criança, se ficará feia grávida, que nome dará, quem é aquele que ela abraça.)
Parece besta, mas era bom fantasiar sobre as várias possibilidades nessas frestas de tempo. Hoje atravessando a rua debaixo de chuva pensava nesses 9's, em seus significados. A cidade estava realmente estranha. Além da chuva repentina, ao virar a esquina da minha rua me deparei com a completa ausência de luz na hora do jogo da Seleção em Pituaçú, enquanto que em outros bairros ônibus eram queimados e módulos policiais metralhados... O futebol, a violência, o escuro, meu cabelo molhado: tudo era Salvador, tudo era nove de Setembro de dois mil e nove. Tudo era tanta coisa em um número... A vontade era de sumir um pouco! E de uma conversa no busú com uma amiga lembrei de Bauci, uma das cidades invisíveis de Calvino, que se sustentava acima das nuvens e que raramente se via seus habitantes em terra.
"Há três hipóteses a respeito dos habitantes de Bauci: que odeiam a terra; que a respeitam a ponto de evitar qualquer contato; que a amam da forma que era antes de existirem e com binóculos e telescópios apontados para baixo não se cansam de examiná-la, folha por folha, pedra por pedra, formiga por formiga, contemplando fascinados a própria ausência." (Uma mulher na fila do banco abre um envelope, descobre que está grávida e me abraça feliz enquanto pensa o que fará pra criar a criança, se ficará feia grávida, que nome dará, quem é aquele que ela abraça.)
Parece besta, mas era bom fantasiar sobre as várias possibilidades nessas frestas de tempo. Hoje atravessando a rua debaixo de chuva pensava nesses 9's, em seus significados. A cidade estava realmente estranha. Além da chuva repentina, ao virar a esquina da minha rua me deparei com a completa ausência de luz na hora do jogo da Seleção em Pituaçú, enquanto que em outros bairros ônibus eram queimados e módulos policiais metralhados... O futebol, a violência, o escuro, meu cabelo molhado: tudo era Salvador, tudo era nove de Setembro de dois mil e nove. Tudo era tanta coisa em um número... A vontade era de sumir um pouco! E de uma conversa no busú com uma amiga lembrei de Bauci, uma das cidades invisíveis de Calvino, que se sustentava acima das nuvens e que raramente se via seus habitantes em terra.
(As Cidades Invisíveis - Pág. 73)
4 Brasil, 2 Chile. A polícia prendeu 14 pessoas, viva!
É mesmo aliviante contemplar a própria ausência...
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
um filme sobre Você
O fragmento, a memória, o incompleto.
"Moscou" é feito disso... ou foi disso que eu o fiz. Um filme que não consigo parar de pensar e re-fazer. A expectativa que antecede um filme de Eduardo Coutinho me leva sempre a impulsionar seus significados. Entre o que eu esperava e o que realmente É, sempre surge algo novo. Novo que aqui precisa de um "N", assim mesmo. Se nos filmes anteriores tal descoberta era feita em uma confortável zona de análise do discurso/narração do outro, "Moscou" parece não ter nenhuma fresta de contato simples ou direto que ajude a descortinar suas imagens e palavras. Esse impedimento não é inconsequente ou gratuito, mas necessário. No texto denso de Tchekov, "As três irmãs", Moscou (a cidade) é a lembrança e o desejo inalcançável. Em cena a atuação dos atores/personagens (Grupo Galpão) é mesclada as memórias pessoais através de fotografias e depoimentos. Coutinho radicaliza seu discurso narrativo sem direcionar seu olhar unicamente sobre o processo de criação (como eu pensava que fosse) ou sobre o já exaustivo debate ficção e documentário. Experimentamos a sensação de incapacidade, da ausência que impregnam a história... Dessa sensação virão nossas constatações. Ausências e impossibilidades. Atingimos o que há de real em nós mesmos, por isso esse documentário acaba sendo sobre cada um que o assiste... Não há maior originalidade.
Entre o que esperava e o que o filme foi, estava eu, só (literalmente) em uma sala escura com a(s) minha(s) Moscou... foi doloroso, inesquecível.
“Tchecov não tem nenhuma culpa do que eu fiz. Aliás, eu ainda nem sei porque fiz este filme.” - Coutinho
"Moscou" é feito disso... ou foi disso que eu o fiz. Um filme que não consigo parar de pensar e re-fazer. A expectativa que antecede um filme de Eduardo Coutinho me leva sempre a impulsionar seus significados. Entre o que eu esperava e o que realmente É, sempre surge algo novo. Novo que aqui precisa de um "N", assim mesmo. Se nos filmes anteriores tal descoberta era feita em uma confortável zona de análise do discurso/narração do outro, "Moscou" parece não ter nenhuma fresta de contato simples ou direto que ajude a descortinar suas imagens e palavras. Esse impedimento não é inconsequente ou gratuito, mas necessário. No texto denso de Tchekov, "As três irmãs", Moscou (a cidade) é a lembrança e o desejo inalcançável. Em cena a atuação dos atores/personagens (Grupo Galpão) é mesclada as memórias pessoais através de fotografias e depoimentos. Coutinho radicaliza seu discurso narrativo sem direcionar seu olhar unicamente sobre o processo de criação (como eu pensava que fosse) ou sobre o já exaustivo debate ficção e documentário. Experimentamos a sensação de incapacidade, da ausência que impregnam a história... Dessa sensação virão nossas constatações. Ausências e impossibilidades. Atingimos o que há de real em nós mesmos, por isso esse documentário acaba sendo sobre cada um que o assiste... Não há maior originalidade.
Entre o que esperava e o que o filme foi, estava eu, só (literalmente) em uma sala escura com a(s) minha(s) Moscou... foi doloroso, inesquecível.
“Tchecov não tem nenhuma culpa do que eu fiz. Aliás, eu ainda nem sei porque fiz este filme.” - Coutinho
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